A cena permanecerá para sempre viva na minha memória.
Eu passava pela calçada da rua onde *Terezinha brincava com suas duas crianças. Era uma manhã fria de outono em Santa Teresa. Eu cumprimentei a família e depois de caminhar em direção a minha casa, lembrei-me que três anos antes, tinha batizado o filho dela na Igreja da cidade. Eles tinham uma vida tranquila, trabalhavam e tinham seus familiares na cidade.
O acontecimento.
Duas semanas depois fomos impactados pela trágica notícia: o filho mais novo do casal, por infelicidade da vida, veio a falecer num acidente com o próprio carro da família.
A correria para salvar a vida, a confiança nos médicos, o desespero do acontecido, a agonia de ver uma vida tão pequena sendo levada tão rapidamente, gerou comoção em toda a cidade. A morte prematura da criança, a dor intermitente dos pais, a agonia da família diante de tão triste cenário, deixou em todos nós um clima de consternação.
Era visível o espantamento no semblante de todos os moradores no bairro.
Foi decretado luto oficial na cidade.
A noite veio terrível.
Contaram-me que na vigília do fim da tarde, foram ouvidas por horas seguidas o choro e o grito da mãe que teria de enterrar seu filho. Seus lábios mal tremiam e o som da voz vinha fraco. Seu esposo se lamentava. Naquele momento, lembrei-me da agonia de Davi no salmo 5,1:
“Escuta Senhor as minhas palavras, considera o meu gemido de dor!”
Quando não podemos mais falar, quando nossa dor é tão grande, mesmo assim não estamos sós. Deus ouve o nosso gemido!
Conforta o coração saber, que mesmo quando não conseguimos rezar, mesmo quando não sabemos expressar nosso sentimento de dor, porque estamos confusos, Deus ouve a nossa oração.
O encontro.
No dia do velório pela manhã, falei com Terezinha pelo telefone.
Sua voz calma, já cansada de tantas lágrimas, me acolheu com ternura, e eu, sem saber o que dizer, lhe pedi para segurar nas mãos de Deus. Afirmei que logo quando eu pudesse faria uma visita para rezarmos juntos.
Ontem fui em direção a sua casa com uma certa ansiedade.
Não é fácil visitar uma família que acabou de enterrar seu filho.
Terezinha estava preparando o café e me mostrou dezenas de fotos da família.
Era grande a dor da saudade. Ela queria conversar e me avisou: estava convencida de que Deus estava com ela e que seu filho estava a seu lado!
Terezinha estava preparando o café e me mostrou dezenas de fotos da família.
Era grande a dor da saudade. Ela queria conversar e me avisou: estava convencida de que Deus estava com ela e que seu filho estava a seu lado!
Passei o restante daquela tarde me lembrando de que varias pessoas através dos séculos, esperaram ansiosamente por uma promessa e nada aconteceu.
Gritaram de dor, gemeram e se lamentaram, mas a engrenagem da vida implacável não mudou o futuro. Simplesmente o sol não apareceu no dia seguinte à dor.
Naquele dia lembrei-me que Deus ouve o nosso silêncio.
Lembrei também que uma vez, quando no desespero de ver a dor de meu irmão, chorei lágrimas tristes à espera de um milagre que não aconteceu.
Diante da dor da Terezinha aprendi a orar em silêncio.
"Quando não somos curados, quando não nos sentimos atendidos, quando as portas não se abrem, quando o mundo parece cinzento e tenebroso, precisamos continuar confiando em Deus."
"Quando não somos curados, quando não nos sentimos atendidos, quando as portas não se abrem, quando o mundo parece cinzento e tenebroso, precisamos continuar confiando em Deus."
Antes de nos precipitarmos e acharmos que a Vida está sendo injusta conosco, precisamos confiar em Deus. Nem todas as portas fechadas foram trancadas por nossos inimigos, nem todos os percalços são fruto da maldade humana.
A dor humana e os "silêncios" divinos.
Muitas vezes Deus age no silêncio, conduzindo-nos por caminhos que são incompreensíveis a nossos olhos. Sem resposta para os “porquês” da vida, resta-nos confiar no caráter de Deus.
Não há respostas simples para o entendimento de certas coisas. Não há significados plausíveis para explicar o sofrimento humano, mas o propósito da vinda de Jesus até nós está ligado à sua empatia com a nossa tristeza.
A compaixão de Deus: a promessa.
Exatamente por vivermos num mundo de dores e aflições é que Deus nos visitou através de seu filho. Ele veio para caminhar ao nosso lado como um amigo que não nos abandona, como um irmão que nos sustenta e como um parceiro que nos ajuda a segurar a carga tão pesada.
Não há respostas simples para o sofrimento humano, mas há uma promessa: Ele caminha ao nosso lado. Quantas pessoas choram nos corredores dos hospitais, ao lado de túmulos em cemitérios, ou trancados em suas casas?
Nesses momentos a sua presença imperceptível confortará.
Muitas vezes, sem palavras, Ele troca o nosso desespero pela esperança, e da tormenta faz a calma. Quando não houver explicações para o punhal que lacera o coração, resta a certeza de que ele venceu a morte e é um amigo mais achegado que um irmão.
Dele ainda se podem ouvir as palavras ditas a uma viúva que enterrava seu único filho: “Mulher, não chores mais!”.
Salamaleiko.
“Amo o Senhor porque ele ouviu a minha voz e o lamento da minha súplica.”
Salmos 116:1
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