terça-feira, 6 de agosto de 2013

Principais desafios para a Igreja no Novo Milênio - parte II.





Idéias retiradas do livro "Diálogos Noturnos em Jerusalém".
Paulus / Puc-Rio, 2012.
Cardeal Carlo Maria Martini

1- O desafio de uma Igreja sempre mais aberta ao encontro do outro:
com atenção e delicadeza, ir ao encontro do outro traduz um dos caminhos que nos levam a Deus. Isso é viver verdadeiramente a abertura universal que a fé em Jesus nos propõe. Para superar a “estreiteza do coração” é necessário alargar as fronteiras da Igreja no mundo: 

“Não se pode fazer um Deus católico. Deus está além dos limites e das definições que estabelecemos. Precisamos de limites na vida, mas não podemos confundi-los com Deus, cujo coração é sempre maior”.

2- A relação entre as religiões e o patrimônio dos povos.
Como reconhece o Cardeal Martini, as religiões são portadoras de um grandioso patrimônio espiritual: 

"As religiões existem para ajudar o maior número possível de pessoas a encontrar uma pátria em Deus”. 

O cardeal Martini relata que em sua longa experiência como padre e depois bispo, encontrou amigos em distintas tradições religiosas, entre os quais estão “os anjos que podemos encontrar aqui na terra”. Foram experiências novidadeiras, mas que jamais o distanciaram do cristianismo. Sublinha que, ao contrário, esse convívio fraterno com os outros reforçou o seu amor à Igreja. 

3- Abertura para o diálogo com "Os de fora da Igreja".
O exercício de abertura dialogal com os outros, requer, porém, a presença de amigos que possam servir de guia nessa travessia. E esse caminho vai revelar novas e mais profundas facetas do ser cristão. Não há que temer os “estranhos”. O diálogo com o islã, foi um dos mais aprofundados por Martini. Nos tempos de sua atuação na diocese de Milão escreveu o clássico texto "Nós e o Islã". O tema vem retomado no livro, trazendo facetas fundamentais que devem reger o diálogo entre as duas tradições religiosas. 

O cardeal Martini assinala três fundamentais tarefas da Igreja no aspecto do diálogo inter-religioso:
1º lugar- A eliminação de preconceitos e imagens distorcidas construídas ao longo da história do cristianismo. 
2º lugar- o reconhecimento das diferenças, mas também o desafio de afirmação da fé num único Deus. 
3º lugar- o exercício da práxis dialogal, da hospitalidade recíproca e da experiência comum de oração.

Toda essa abertura dialogal proposta pelo cardeal Martini tem sua raiz na fé de Jesus e no seu testemunho essencial de hospitalidade inter-religiosa. Na abertura do livro, o pe. Georg Sporschill dizia que o Cardeal Martini nos possibilita um encontro peculiar com Jesus, a partir de uma perspectiva distinta da apresentada pelo Papa Bento XVI em seu livro sobre Jesus de Nazaré. O que há de singular aqui é o traço de Jesus “amigo dos publicanos e pecadores. 

"O diferencial de Jesus nos Evangelhos é que Ele escuta as perguntas dos jovens. Ele provoca inquietação. Ele luta conosco contra a injustiça”. 

4- O amor inclusivo de Jesus como fonte de inspiração para a Igreja.
Para Martini, o que distingue o amor de Jesus é a sua experiência de amor que visibiliza o Deus misericordioso; e também a sua disponibilidade e abertura aos “estranhos”. 

"Jesus viveu em sua vida um “amor aberto”, sempre incluindo e nunca desprezando. Por essa capacidade, ele se torna exemplo para o cristão que ousa corajosamente entrar em diálogo com os outros."

Jesus é nosso mestre nessa abertura aos ´estranhos`, que no seu tempo eram os pagãos e os soldados romanos”. O Cardeal Martini sublinha em seu livro que o amor é o que há de mais essencial no nosso testemunho histórico, no nosso relacionamento humano. Seguindo a norma bíblica contida na versão original hebraica, há que amar o próximo, “porque ele é como tu”. E esse amor deve acontecer na atmosfera fundamental da bem-querença de Deus. 

5- Profissão de fé e testemunho de amor dos cristãos perante o mundo.
Há que “buscar a Deus com sinceridade e prontos a nos entregar a ele”. E isso, para Martini, é “muito mais importante que uma exterior profissão de pertença religiosa”. Num tempo carente de vozes proféticas, o livro do Cardeal Martini revela-se auspicioso. Acende a chama de esperança nos cristãos que acreditam num novo modo de ser Igreja.

Leitura recomendada!!

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