terça-feira, 14 de maio de 2013

A passagem.





Acho que estou ficando velho.
Cheguei aos 35 anos e resisto atualmente a três tipos de comportamentos atrelados ao mundo da religião: fundamentalismo, arrogância doutrinária e falso pietismo religioso. 
Não gosto desse apelo que muitos cristãos têm feito à manutenção de uma fé intimista, ortodoxa e extremista no cumprimento dos detalhes, pois tenho a impressão de que com essas tendências, o Evangelho torna-se cada vez mais desvinculado da vida concreta do mundo e das pessoas.

Com o passar dos anos, aprendi a evitar gastar tempo debatendo com os defensores da "reta doutrina".
Lembro-me que Jesus não gostava de frequentá-los...
Que seja necessário defendermos a Fé cristã diante de tanto relativismo (Rm 12, 2) e posturas que desfiguraram a fé neste patrimônio a nós confiado, isso é aceitável, mas propor um tipo de cristianismo que usa da violência crítica argumentativa e do ataque como estratégia de defesa, creio ser uma postura bem distante dos ensinamentos do carpinteiro de Nazaré.

"Se sua fé legitima preconceito, ódio e discriminação, não chame isso de Fé e sim de maligna certeza."

Questionamentos...
Não consigo entender uma espiritualidade que busca a intimidade com Deus por meio da oração e da piedade em si mesmas e se esquece, ao mesmo tempo, que um terço da população mundial ainda caminha distante de Deus. Ateus e agnósticos estão cada vez mais presentes entre nós!
Esse tipo de fé costuma se degenerar facilmente numa piedade individualista, moralizante e completamente cega ao que afeta a vida do outro e ao que afeta a realidade do mundo como um todo. 

Como sentir os apelos e anseios de Deus ao mundo se ainda continuamos a ver o mundo com nossas pobres lentes?

Outras idéias...
Como disse o teólogo rabino Jonathan Sacs: "tenho a impressão que estamos como o cachorro correndo atrás do seu próprio rabo, gastando tanto tempo em como resolver os problemas de nosso quintal, enquanto o mundo segue freneticamente uma marcha que já não alcançamos mais".

Sugestão...
Para mim, a fé mais profunda que existe não é a fé que traz Deus para dentro de mim, Ele já está aqui! Mas a fé que me leva para fora de mim mesmo, em direção ao outro, à realidade encarnada! 
Em minha opinião a pessoa mais íntima de Deus não é a que o adora na individualidade intimista, e que em alguns casos, gosta de ser reconhecida e admirada por isso: Neo-farisaísmo! Mas a que o serve quando ele [Deus encarnado na vida do outro] pede água, comida, dignidade, respeito a direitos humanos fundamentais etc.

Constatação...
Alguns dizem, com certa razão, que sigo uma teologia cheia de princípios pós-modernos. 
Nesse caso específico, não sou nem um pouco pós-moderno. 
Quer algo mais pós-moderno do que viver uma fé individualista e egocêntrica, centrada no eu e em suas necessidades?

Interpelação...
O apelo de fé que aceito é: seja íntimo de Deus para crescer em humanidade! 
Esteja disposto a sair de si para se encontrar com outro, mesmo na possibilidade da incompreensão.
Esteja disposto a buscar a liberdade ao lado dos que, impulsionados pela fé em Jesus, correm o risco de se tornarem criticados.
Esteja disposto a cair e levantar sempre que sua teologia for questionada e necessitar de contínuo aprofundamento teórico e prático. 

Conclusão...
Penso que só nos tornamos amigos íntimos de Deus, quando nos ancoramos numa fé que nos impele para fora, para a realidade, para o espaço no qual Deus ainda não é percebido, onde o fraco está sendo machucado e onde primordialmente a Fé em Jesus precisa ser encarnada.
Aqui e acolá!!

Vida que segue...

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