quarta-feira, 17 de julho de 2013

Francisco de Assis e Francisco de Roma: leituras matinais.



Notas Iniciais.
O teólogo e escritor Leonardo Boff lançará hoje, na Livraria da Travessa no Leblon, (RJ) seu novo livro “Francisco de Assis e Francisco de Roma, uma nova primavera na Igreja?”, uma publicação da Editora Mar de Ideias. O livro será lançado dentro do Evento que terá como palestra principal “Os Caminhos da Fé”, e começará às 19h30.

Ser Francisco de Assis corresponde à Tradição de Jesus Cristo e à exigência evangélica. É a opção pela simplicidade e e pela necessidade de confraternização entre todos os povos, a natureza e o planeta Terra. 

Quando um papa, o primeiro vindo da América Latina, escolhe o nome de Francisco tem como intenção passar uma importante mensagem ao mundo sobre sua missão – o que, possivelmente, será uma nova primavera na Igreja. Ao fazer esta analogia entre Francisco de Assis e Francisco de Roma, Leonardo Boff aproxima essas figuras simbólicas. Não se trata de simples comparação, mas sim da constatação de uma inspiração divina. Esse livro também é uma mensagem de amor, esperança e fé. E acolhe aos anseios de todos os que queremos uma Igreja mais próxima e acolhedora.

O caminho de Francisco.
São Francisco iniciou uma Igreja que caminhava com os pobres, pela palavra do evangelho, que se revela ecológica ao chamar todos os seres de irmãos e irmãs. Esse é o modelo de Igreja que inspira Francisco de Roma: simples, evangélica, destituída de todo o aparato, e que também inclui a ética do cuidado com a vida humana e planetária. 

O novo livro do autor, ainda que considerado por alguns como membro da "esquerda católica", comunista, teólogo da libertação e anti-clerical, também é uma mensagem de amor, esperança e fé. Uma obra que vai ao encontro dos anseios de todos que queremos uma Igreja mais próxima e acolhedora. Mas também é destinado aos jovens, que têm a responsabilidade de promover, hoje, mudanças para garantir o futuro: ter gentileza para com o outro, pensar na injustiça social como um problema universal a ser combatido, ser ecológico nas pequenas e grandes atitudes, assumir um consumo responsável, viver, verdadeiramente, Jesus em sua simplicidade, e incluir Deus em seus projetos.

A comparação entre os nomes.
Por que Francisco? Porque São Francisco começou sua conversão ao ouvir o Crucifixo da capelinha de São Damião lhe dizer:”Francisco, vai e restaura a minha casa; olhe que ela está em ruínas”.

Francisco tomou ao pé da letra estas palavras e reconstruiu a igrejinha da Porciúncula que existe ainda em Assis dentro de uma imensa catedral. Depois entendeu que se tratava de algo espiritual: restaurar a “Igreja que Cristo resgatara com seu sangue”. Foi então que começou seu movimento de renovação da Igreja que era presidida pelo Papa mais poderoso da história, Inocêncio III. Começou morando com os hansenianos e de braço com um deles ia pelos caminhos pregando o evangelho em língua popular e não em latim.

É bom que se saiba que São Francisco nunca foi padre mas apenas leigo. Só no final da vida, quando os Papas proibiram que os leigos pregassem, aceitou ser diácono à condição de não receber nenhuma remuneração pelo cargo.

Por que o Cardeal Jorge Mario Bergoglio escolheu o nome de Francisco? 
Talvez porque tivesse dado conta de que a Igreja fraqueja em seu caminhar por causa da  desmoralização dos vários erros  que atingiram o que ela tem de mais precioso: a moralidade e a credibilidade.

Francisco não é um simples nome. 
É um projeto de Igreja, pobre, simples, evangélica e destituída de todo o poder. 
É uma Igreja que anda pelos caminhos, junto com os últimos; que cria as primeiras comunidades de irmãos que rezam o breviário e a bíblia debaixo de árvores junto com os passarinhos. 
É uma Igreja ecológica que chama a todos os seres com a doce palavra de “irmãos e irmãs”. 

São Francisco se mostrou obediente à Igreja dos Papas e, ao mesmo tempo, seguiu seu próprio caminho com o evangelho da pobreza na mão. Escreveu o então teólogo Joseph Ratzinger: 

”O não de Francisco àquele tipo de Igreja não poderia ser mais radical, é o que chamaríamos de protesto profético. Ele não fala, simplesmente inaugura o novo."

Um projeto evangélico.
Creio que o Papa Francisco tem em mente uma Igreja assim, fora dos palácios e dos símbolos do poder. Mostrou-o ao aparecer em público. Normalmente os Papas punham sobre os ombros algumas vestimentas de brocados de ouro que só os imperadores podiam usar. O Papa Francisco veio simplesmente vestido de branco e com a cruz de bispo. 

Notas elementares:
Três pontos são de ressaltar em sua fala e são de grande significação simbólica.

O primeiro: disse que quer “presidir na caridade”. Isso desde a Reforma e nos melhores teólogos do ecumenismo era cobrado. O Papa não deve presidir como um monarca absoluto, revestido de poder sagrado como prevê o direito canônico. Segundo Jesus, deve presidir no amor e fortalecer a fé dos irmãos e irmãs.

O segundo: em seu discurso inicial, o papa deu centralidade ao Povo de Deus, tão realçada pelo Vaticano II e posta de lado pelos dois Papas anteriores em favor da Hierarquia. O Papa Francisco, humildemente, pede que o Povo de Deus reze por ele e o abençoe. Somente depois, ele abençoará o Povo de Deus. Isto significa: ele está ai para servir e não par ser servido. Pede que o ajudem a construir um caminho juntos. E clama por fraternidade para toda a humanidade onde os seres humanos não se reconhecem como irmãos e irmãs mas reféns dos mecanismos da economia.

O terceiro: por fim, evitou toda a espetacularização da figura do Papa. Não estendeu os braços para saudar o povo. Ficou parado, imóvel, sério e sóbrio, diria, quase assustado. Apenas se via a figura branca que olhava com carinho para a multidão. Mas irradiava paz e confiança. Usou de humor falando sem uma retórica oficialista. Como um pastor fala aos seus fiéis.

Cabe por último ressaltar que é um Papa que vem do Grande Sul, onde estão os pobres da Terra e onde vivem 60% dos católicos do mundo. Com sua experiência de pastor, com uma nova visão das coisas, a partir de baixo, poderá reformar a Cúria, descentralizar a administração e conferir um rosto novo e crível à Igreja.

Salamaleiko.

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