A Consciência Ingênua - parte I.

Paulo Freire é considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial.
Sua obra literária influenciou profundamente o movimento chamado "pedagogia crítica". 
A prática didática de Paulo Freire fundamentava-se na crença de que é possível um aluno assimilar o objeto de seu estudo fazendo uso de uma relação "dialética" com a realidade, em contraposição à um tipo de "Educação", por ele denominada educação "bancária", tecnicista e alienante.

"Para Paulo Freire, o educando deveria criar sua própria educação, fazendo ele próprio o caminho, e não seguindo um caminho já previamente construído. Ao se libertar de chavões alienantes, o educando poderia criar o rumo do seu aprendizado."

Paulo Freire destacou-se por seu trabalho na área da educação popular.
Dedicou vários anos de seu trabalho à pesquisa de um método que determinasse a escolarização como caminho para a formação da consciência política das pessoas. 

Autor do Livro "A Pedagogia do Oprimido", um método de alfabetização dialético, se diferenciou do "vanguardismo" dos intelectuais da esquerda tradicional e sempre defendeu o diálogo com as pessoas simples, não só como método, mas como um modo de ser realmente democrático.

Em 13 de abril de 2012, foi declarado como Patrono da Educação Brasileira.
Uma de suas grandes obras, intitulada “Educação e mudança”, Paulo Freire lista 9 características da “Consciência Ingênua”. 
Como acredito que um dos males da atual cultura religiosa nacional vem exatamente de sua ingenuidade, achei que deveria “roubar” essas pérolas e publicá-las aqui no Blog.

Boa leitura a todos!


Como pensa aquele que vive num estado de "Consciência Ingênua":

1. Revela certa simplicidade na elaboração dos problemas.
Tende a um simplismo na interpretação dos conflitos da vida, isto é, encara um desafio de maneira simplista ou com superficialidade. Não se aprofunda na casualidade do próprio fato. Suas conclusões são apressadas, superficiais.

2. Tende a considerar que o passado foi melhor. 
Por exemplo: os pais que se queixam da conduta de seus filhos, comparando-a ao que faziam quando jovens. As pessoas que reclamam insatisfeitas do estado de coisas a que chegamos num "saudosismo estéril".

3. Tende a aceitar e incentivar formas massificadoras de comportamento.
Esta tendência pode levar a uma consciência fanática de respeito por si e pela instituição representada, e à falta de senso crítico ante os erros e fracassos perceptíveis na realidade.

4. Subestima as pessoas simples.
Do alto de sua majestade, não crê na possibilidade de "perder a guerra".

5. É impermeável na investigação da realidade. 
Na análise do momento presente, a pessoa ingênua satisfaz-se com as experiências passadas. Toda concepção científica para a pessoa é um jogo de palavras. Suas explicações são falhas. Falta capacidade de elaboração da questão para si, e por isso, recorre ao argumento da tradição e da "autoridade" para reforçar suas idéias.

6. É frágil na discussão dos problemas.
O ingênuo parte do princípio de que sabe tudo. Pretende ganhar a discussão com argumentações frágeis. Evita a polêmica, mas não consegue esclarecer. Sua discussão é feita mais de emocionalidades que de criticidades: não procura a verdade, trata de impô-la e procura meios históricos de convencer e justificar suas idéias.

7. Tem forte conteúdo passional. 
Por falta de habilidade com a palavra e com o uso da razão pode facilmente cair no fanatismo ou no sectarismo.

8. Apresenta compreensões mágicas da vida.
Descarta possibilidades contingenciais, inclusive do próprio erro ao não acreditar na temporalidade de suas convicções mais "religiosas".

9. Diz que a realidade é estática e não deve "mudar".
Por isso, teme o novo, execra quem difere de sua forma de pensar e sugere a "ex-comunhão" como caminho de correção ao perigoso mal que surge da "nova forma de pensar". 

Depois de iniciado em Paulo Freire, chego a pensar: Ele precisa ser leitura obrigatória para muitos de nós, formadores de opinião.


Vida que segue. Creio sempre:

"O melhor ainda está por vir..."