Memórias e Declarações da Noite.

Vez por outra me surpreendo com as afirmações de certas pessoas.

Hoje estava conversando com uma amiga querida, e depois de alguns insights, ela declarou:

- Frei, percebi que voce voltou um pouco diferente da sua viagem!

Ela notara que eu estava mais sério, menos sorridente e com o timbre de voz mais grave.

Confesso: passo por mudanças.
Meu coração está mais calmo.

Passei a desejar uma espiritualidade de afetos.

Abandonei o esforço de fazer de minhas orações uma técnica de cativar a Deus.

Hoje aceito que oração tem mais a ver com a compaixão.

Por isso, sinto-me mais motivado a procurar a dimensão paterna de Deus na Biblia.

Desejo ter o coração e a alma tocados pela paz que vem de saber-me amado e querido pelo Senhor.

Nesta nova caminhada, depois dos dias passados em Israel, decidi re-dimensionar minha leitura da vida.  

Estou aprendendo que rezar é inspirar ausência.

Que espiritualidade é sentir-se só.
É suplicar consolo de um pai bom e amoroso.Que Fé é uma aposta no escuro e só se entende bem a Deus com o coração.

Sem muito barulho, estou tentando colocar a minha alma numa quietude parecida com a que o sumo sacerdote experimentava ao entrar no Santo dos Santos.

Noto que nossas celebrações, as vezes, são agitadas.

E eu, elétrico por natureza, deixo passar desapercebido, a graça de Deus que sopra na brisa leve e mansa do simples fato de estar em paz com minha alma.

Aceito que na agitação, evitamos o confronto com a interioridade e, consequentemente, com Deus. Agora, só agora, começo a intuir o significado de orar no quarto fechado, em secreto.

Depois de tanto pensar, começo  a ler as Escrituras com mais coração.

Minha nova forma de enxergar a Fé, se concentra em perceber o amor e a bondade gratuita do criador nas pessoas.

Desisti da pretensão de chegar à verdade simplesmente decorando textos.

Eu quero perceber o recado de Deus nas entrelinhas, do Pai que me ama sem que eu mereça. Isso se chama graça.

Quero me desfazer dos cadarços que me prendiam a uma interretação moralista dos comportamentos humanos a partir dos textos.

Desejo vivenciar minha espiritualidade em atos devocionais.

Por onde passo, quero com minha vida destilar ternura e abraçar as pessoas que amo.
Quero ser um portador vivo da presença do Deus que me quer bem e deseja que todos chegem ao conhecimento da sua vontade.

Nesta nova empreitada, pretendo transformar-me em um adorador, que faz do seguimento de Jesus uma expressão viva de interioridade.

Rezo para que Ele me ajude a ser um instrumento do amor, que eu saiba também conduzir as pessoas ao bem maior.
Agradeço a ti, querida, o abraço e o carinho que consolaram minha'alma nesta noite.

No silêncio desta noite fria, despeço-me cantando, meu bom Jesus.

"...Não existe nada melhor

Do que ser amigo de Deus.

Caminhar seguro na Luz.

Desfrutar do seu amor.

Ter a paz no coração.

Viver sempre em comunhão.

E assim perceber, a grandeza do poder...

de Jesus, meu bom pastor."

Frei Eduardo F. Melo
Santa Teresa - ES
26 de julho de 2010.