terça-feira, 3 de agosto de 2010

IMPASSES DO PERFECCIONISMO.


Li recentemente a Obra do psicoterapeuta Ricardo Peter, "Respeita teus Limites".
Esse livro é um dos clássicos da literatura cristã, porque possui uma vasta gama de material que pode auxiliar-nos no conhecimento de nossos limites e imperfeições humanas.

A busca da perfeição é um assunto recorrente nas rodas de conversa entre os religiosos.
Facilmente confundimos santidade com perfeição, um conceito que vem sendo trabalhado por tantos psicoterapeutas modernos, e que até hoje tem provocado controvérsias e conflitos entre os teóricos do assunto.

Recomendo para essa leitura artigos e textos de autores atuais como Anselm Grunn, Rick Warren, Abrhaam Joschua Heschel, Ricardo peter entre outros.
Do fichamento, selecionei alguns tópicos que acho convenientes citar no Blog.
Boa leitura á Todos.

Frei Eduardo F. Melo
Santa Teresa - ES
3 de agosto de 2010.


IMPASSES DO PERFECCIONISMO

O conceito de perfeição que cada um tem em sua própria cabeça, não é puramente teórico, mas um conceito que se forma ao longo da vida, é existencial, e portanto, vem marcado por cargas afetivas desde a primeira infância: os comportamentos corretos e perfeitos eram premiados, os imperfeitos e incorretos, sempre punidos.

Normalmente acreditamos que a perfeição se identifica com a idéia de não termos defeitos, não termos vícios, não termos traumas nem marcas psíquicas negativas, não termos nenhuma fraqueza, nenhuma falha, nenhum pecado etc...

A busca da realização plena é um projeto do homem, um ideal humano.
Trata-se de um projeto fechado dentro do próprio eu, que exige o máximo de si, o máximo de esforço para não falhar em ponto algum. 
O perfeccionista está convencido de que somente será amado por Deus e pelos demais se for correto sempre. Nesse esforço ele tende a contar exclusivamente consigo mesmo, prescindindo de Deus e dos outros.

A perfeição estaria no fim do caminho que traçamos para nós, do ideal que nos propusemos, ou então no topo de uma escada que decidimos subir com nosso esforço, galgando degrau por degrau, eliminando vícios e adquirindo virtudes numa busca tensa.

A perfeição não suporta o pecado, uma vez que o perfeccionista vê o pecado não como uma ruptura dos laços de amor, mas como uma falha estritamente pessoal:
"Falhei no meu ideal, naquilo que me havia proposto".
Esta verificação é sempre sentida como humilhação.

O perfeccionista procura viver apenas com os melhores fragmentos de si, aqueles que estão conforme com as normas, com o ideal buscado, com o que pensa que os outros esperam dele. O resto, as fraquezas, as tendências obscuras, os fragmentos dos quais está menos orgulhoso, ficam trancados para sempre nas margens da consciência. Eles são recusados e negados. desse modo, a chaga secreta que está fermentando, supurando e contaminando a vida nunca é reconhecida, nunca vem à luz.

O perfeccionismo tende a fechar a pessoa sobre si, e fechá-la para Deus e para os outros. O amor e a confiança na misericórdia divina desaparece.

O perfeccionista tende a olhar sempre para si, tornando-se seu próprio juiz. Após certo tempo de luta sua vida pode tornar-se amargurada, consigo mesmo, com Deus e com os outros.

O perfeccionismo visa a própria pessoa: ela própria estabelece seus ideais e seus degraus, se mede e se compara, calcula e avalia. Suas quedas e falhas, visto que não têm um referencial fora de sim, são amargas, entristecem, levam ao desânimo e à auto-condenação.

A perfeição dialoga com um código de normas e de exigências, dialoga com a lei.
Esse código é, não raro, elaborado sob o peso do constrangimento de uma consciência culpada que fixa rigidamente as balizas de uma estrada fora da qual não se pode dar um passo sem que a auto-imagem se esfacele em sentimentos de fracasso irremediável.

O perfeccionismo não justifica nem salva o homem.
Basta lermos a parábola do fariseu e do publicano que sobem ao templo para orar.
Esta pequena parábola teve o efeito de uma bomba atômica para a sociedade religiosa judaica, porque nela Jesus coloca tudo de pernas para o ar, inverte toda a concepção de justificação e salvação tranquilamente aceita pelo judaismo.

Na teologia judaica, todos estavam convictos de que as pessoas agradáveis a Deus, que estavam justificadas, eram os fariseus, fanáticos compridores da lei.

Jesus afirma o oposto, que aquele que orava mais bonito não saiu do templo justificado. Sua pretensa perfeição no cumprimento da lei, o levava a um grande orgulho, a ponto de dizer que "não era como os demais homens".

Todo orgulho leva ao desprezo dos outros e à ingratidão.
O orgulhoso fecha o coração para o amor, a prescindir de Deus, a pensar que a pessoa pode se salvar pelo próprio esforço, a exigir recompensa de Deus.

Jesus afirma sem rodeios, tal homem não está justificado, pois a "falsa idéia da perfeição" não justifica o homem.

O publicano sim, sai do templo justificado, e entra no caminho da salvação.
O publicano capitula diante de Deus: reconhece seu pecado e sua condição de pecador, reconhece sua incapacidade de salvar-se por si mesmo, abre-se para um outro, abre-se para Deus de quem espera o perdão e a salvação.

A humildade diante de Deus é a porta de abertura para sair de um mundo enclausurado em si mesmo, um mundo auto-suficiente, onde tudo gira em torno do próprio eu, onde não há lugar para o Outro e os outros, onde não há salvação possível.

Ricardo Peter
Respeita teus Limites
Edições Loyola, 1996.

3 comentários:

  1. Freeei! =D

    Confesso que talvez não diretamente, mas indiretamente, algumas coisas vieram a calhar para mim. E é sempre bom ver sobre outro prisma a situação. Tas em Minas já? Aproveita bastante da terrinha aí por mim, que eu tô com saudade de Minas! uahsuhaushuaishiua.
    Bom, se o problema era a poesia do paradoxo, agora não é mais!rsrsrsrs... Texto em prosa novinho por lá, mais real e menos lúdico, mas não abdico das minhas entrelinhas! hahahaha.

    Até! ^^

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  2. Deus não espera de nós perfeição, ou seja, seguir tudo ao pé da letra como um robô, ao contrário, deus chama, procura por pessoas normais,com defeitos e simples que precisam dele para as curar e perdoar, levando-as para o caminho da paz ... =D

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  3. Valeuuuu Frei,
    Texto fantástico.
    Teve o poder de me acordar dos paradigmas infantes, da urgente necessidade de deixar os pretextos de ser certinha e não santa de verdade. Faz-me desejar ser como o publicano que simplismente mostra quem é sem temer os limites que insistem em persistir...e até me alegrar com eles, pois me possibilitam depender do Único capaz de me sustentar.

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