Debaixo daquelas Pedras - Impressões de Israel (Parte 1)

Ter estado em Israel, acredito, foi um divisor de águas em minha vida.

O sonho de adolescente, as imagens daquele deserto sem mundo, a simples idéia de um dia pisar naquele lugar onde viveu "o santo da Terra" acabou se realizando bem antes que imaginava.

Guardo com intensa saudade os momentos vividos naquele áspero e belo mundo.

Ninguém volta de Jerusalém do mesmo jeito que chegou.

Hoje, olhando para trás, me vejo mais sensato.

Apesar de meus poucos anos, considero-me uma pessoa mais prudente.

Aprendo com o Lenine "que tudo sempre pede um pouco mais de calma e que a vida é tão rara."

Hoje, mais do que nunca, aceito a teoria de que tudo o que começa rápido demais, sempre termina, do mesmo modo, rápido demais.

Por causa disso, redimensionei minhas amizades.

Desde que entrei para a vida Religiosa venho aprendendo a lidar melhor com as sombras de minh'alma.

Nessa jornada espiritual, perdi o medo de mostrar minha vulnerabilidade.

Já temi ser censurado por algumas pessoas por causa de minha fragilidade.

Tentei, muitas vezes, impressionar as pessoas com discursos valentes, quando, inseguro, eu pedia que Deus segurasse minha mão.

Assim, hoje, descanso.

Sinto-me livre para afirmar que ainda estou em construção.

Meu mestre, em nenhum momento de sua trajetória, disse que estava totalmente ciente da vida.

Sou um projeto inacabado e não quero esconder minhas ambigüidades.

Quando me sentir cansado, terei a liberdade de desabafar com o meu bom e amado Jesus e com aqueles que fazem parte do meu coração.

Quando precisar lamentar e chorar, não hesitarei, igual a ele, quando triste e angustiado, disse:

“A minha alma está cheia de tristeza até a morte”.

Quando tiver vontade de rir e de abraçar, não temerei os "juízes" que me abservam nas esquinas e nas praças da cidade.

Eles já têm a quem os julgue.

Hoje, sinceramente já não me importo de não parecer tão forte.

Busco não me engessar nos conceitos em que me apoiava.

Só não quero perder a leveza de minha alma.

Essa é minha nova meta.

Quero seguir o exemplo de Jesus que...

em nome da vida, não temeu contradizer as rígidas normas religiosas de seu tempo.

Busco a coragem de meu mestre, que não respeitou os preconceitos sociais espúrios de seus opositores...

Busco a audácia do Nazareno, que soube quebrar os paradigmas do farisaismo reinate, quando conversou com prostitutas e acolheu pecadores em sua companhia...

Quero permanecer alerta para não me tornar um dogmático intolerante e cego em minhas convicções.

Anseio por uma humanidade não fingida.

Lerei a Bíblia também contra mim. Coisa dificil de ser feita.

Rezarei não para que minha vontade esteja sempre em destaque, mas para que Ele faça de mim o que lhe aprouver.

Quero permitir que a bíblia penetre no mais profundo de meu ser...

Quero permitir que a Palavra de Deus ilumine as intenções nebulosas de meu coração.

Ela é espada cortante e penetrante, eu lembro bem desse texto.

Atenderei a admoestação do profeta Miquéias (6.8):

“Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige de Ti: que pratiques a justiça, ames a verdade e andes humildemente com o seu Deus”.

Acredito que vem dele a minha teimosia de acreditar que não precisamos envelhecer  para começar a viver os valores do evangelho.

E como tudo passa rapidamente, sugiro que comecemos já.

Essa é a questão.

Frei Eduardo F. Melo
Santa Teresa - ES.
21 de julho de 2010.