terça-feira, 9 de outubro de 2012

Desafios ao Cristianismo no início do Novo Milênio (1a parte).

 
 
 
 
Venho pesquisando o universo religioso evangélico há alguns anos.
Reconheço que minhas conclusões ainda são preliminares, e seguindo a linha dos bons sociólogos desta geração, constato certas tendências no protestantismo brasileiro que se multiplicam alicerçadas em três paradigmas centrais para a vida do “crente”:
 
Prometem que ele nunca mais vai ter doenças;
Prometem que o crente vai pisar a cabeça do diabo e nunca mais sofrer;
Prometem que ele vai ficar rico porque é filho de Deus e não merece o sofrimento;
 
Essas Igrejas repetem exaustivamente que ninguém precisa transferir para a eternidade o que pode ser reivindicado já nesta vida.
E isso é alarmante para o evangelho verdadeiro! Essa é a tese de um dos grandes evangelistas americanos, sr. Kennet Haggin, fundador da teologia da prosperidade iniciada nos idos da década de 40 nos EUA, e que veio aportar aqui no Brasil através das famosas igrejas pentecostais Assembléia de Deus (Gunnar Vingren), Igreja Deus é Amor (pr. David Miranda) e Igreja Universal do Reino de Deus (bispo Macedo)
 
Algumas Igrejas insistem numa lógica intimista e legitimadora do  seu rebanho, alicerçada na promessa feita a Israel de que o fiel é “cabeça e não cauda”.
Assim o crente que freqüenta os cultos da prosperidade, por exemplo, recebe semanalmente uma injeção de "cocaína espiritual" no sangue, fazendo com que se sinta o dono do mundo e o detentor dos poderes que podem lhe garantir a felicidade plena, em todas as áreas de sua vida (econômica, afetiva, física e espiritual).
 
Mas isso é uma mentira....
 
POSSO AFIRMAR COM TODA CERTEZA QUE ESSA MENSAGEM É TÃO PERIGOSA QUE DARIA ATÉ PRA ENTRAR COM UM PROCESSO NO PROCON CONTRA A PROPAGANDA ENGANOSA QUE VEM SENDO FEITA EM NOME DE DEUS POR CERTOS PASTORES EVANGÉLICOS EM ALGUMAS IGREJAS ATUALMENTE!!!
 
Nem que seja por apenas alguns minutos de culto...
essa espécie de “CRENTE” sonha ingenuamente com tudo o que os seus olhos gulosos viram as empresas de marketing oferecerem na televisão.
E isso é tenebroso!!! Tenebroso porque estão colocando o patrimônio da Fé cristã numa tremenda enrascada, barateando a mensagem do Evangelho de Cristo com uma promessa mentirosa e tacanha.
 
 
 
 
Hoje posso afirmar com certa propriedade: algumas igrejas cristãs nesse início de milênio se transformaram em verdadeiras ilhas da fantasia capitalista.
Nas pesquisas de campo que venho realizando nestes últimos anos já vi ministros sagrados enganando fiéis, extorquindo dinheiro e cativando pessoas pobres e despreparadas emocionalmente (que na maioria das vezes vão até lá bem-intencionadas, porém não menos gananciosas), prometendo-lhes sucesso e bem estar, mas isso é um absurdo.
 
Prometer em nome de Deus uma coisa que não se pode dar é crime.
Crime contra a pessoa do crente e um assinte à pessoa de Deus!
 
De certo modo, podemos afirmar que essas igrejas estão entrando num processo perigoso e sutil...
tornando-se mesmo um ópio para grande parte da população brasileira, que empobrecida e desanimada com todo o caos social emergente no país, busca nesses templos um refúgio e um alívio pra lidar com as mazelas que tocam o coração e a alma humana.
 
As últimas pesquisas realizadas pelo censo do IBGE de 2010 (presente no Atlas da Filiação Religiosa Brasileira- ed. PUC rio), já afirma que o numero de evangélicos chega aos 50 milhões de pessoas no país.
 
Empresários falidos, artistas em fim de carreira...
jogadores de futebol mal-sucedidos, empregados sem qualificação, correm para as infindáveis campanhas religiosas promovidas por essas igrejas em busca de reverter à pretensa “maldição” que paira sobre suas vidas.
E, depois de espoliados e extorquidos, são devolvidos à dura realidade da vida, obrigados a encarar a triste chegada da segunda-feira.
 
Dependurados nos trens suburbanos ou parados nas enormes filas pelas calçadas atrás de um emprego...
eles sofrem tristes e deprimidos como os foliões do carnaval que voltam para seu destino na madrugada da quarta-feira de cinza.
Enfrentam sozinhos a dura realidade de que não são reis ou rainhas, mas apenas sub-empregados, obrigados a viverem com um salário mínimo miserável, num mundo que os exclui sem dó nem piedade...
 
Infelizmente chego à conclusão de que hoje, a própria definição do que seja a FÉ vem sofrendo enormes mudanças.
Antigamente entendia-se fé como uma adesão a um conceito teológico ou mesmo como uma habilidade sensitiva de perceber o mundo espiritual.
Pessoas de fé discerniam as ações de Deus e do mundo espiritual com maior acuidade e prudência. Eram pessoas que confiavam no caráter de Deus, mesmo sem evidências que comprovassem sua palavra. Tenho pessoas na minha família que revelam e muito essa experiência com o transcendente.
 
Hoje se entende FÉ como uma mera capacidade de instrumentalizar os poderes de Deus egoisticamente.
Por isso vemos cristãos ao mesmo tempo, intrépidos e vorazes em defender sua religião, que fazem de tudo para demonstrar sua diferença estética em relação aos outros, mas com muito pouco conteúdo doutrinário e muito pouca demonstração de verdade e de transparência de caráter.
 
Nesse aspecto temos de concordar com Marx que “fé” e cocaína possuem enormes semelhanças.
Simplesmente porque dão uma falsa sensação de poder e geram pessoas artificialmente soberbas. Mas eu não tenho dúvida de que tanto a ressaca da cocaína como a ressaca da fé pós-moderna será terrível, porque vem sempre acompanhada de depressão e desengano.
 
Talvez seja por isso que os cultos de determinadas igrejas evangélicas brasileiras estão sempre cheios.
Igrejas abarrotadas de gente que não se satisfez totalmente com o efeito amortizador de promessas falsas e inóspitas. Por isso, creio que hoje precisamos mais do que nunca na Igreja cristã deste novo milênio, resgatarmos o cerne do Cristianismo verdadeiro:
 
A MENSAGEM DE QUE DEUS NOS AMA E NOS QUER BEM, SEM ESPERAR NADA EM TROCA. APESAR DE TODA APARÊNCIA DE PERVERSIDADE QUE HÁ NO MUNDO E NO CORAÇÃO HUMANO, PRECISAMOS VOLTAR A AFIRMAR QUE DEUS AINDA ACREDITA EM NÓS, E VEM APOSTANDO TUDO PARA QUE DE FATO SEJAMOS PARTE DE SUA FAMÍLIA, A FIM DE QUE CONSTRUAMOS UMA VIDA MAIS BONITA E PLENA DE SENTIDO.
 
Assim, o tóxico religioso de hoje é sempre estimulante.
Por isso os novos mercadejadores da fé precisaram redefinir, inclusive, a imagem de Deus. Venho reparando que A divindade pós-moderna só existe para servir aos caprichos das pessoas.
 
Os cultos se transformaram em centros de aperfeiçoamento e aprimoramento humano.
As igrejas deixaram de ser espaços para se cultuar a pessoa de Deus, seu caráter e sua ação na história, para se tornarem centros de especialização sobre o como ensinar as pessoas a manipularem a Deus.
 
As liturgias evangélicas espiritualizam as técnicas mais populares de como “liberar o poder de Deus”, “afastar encostos”, “tomar posse dos direitos”, “conquistar gigantes”.
As pessoas se aproximam de Deus cheias de direitos, vontades e desejos, acreditando que são o centro do universo e que tudo e todos lhes devem obrigações. Perde-se o estado de “maravilhamento”, de reverência e de submissão ao Eterno.
 
Assim o que podemos afirmar, de maneira geral, sobre o universo religioso pentecostal brasileiro, é que o propósito de toda atividade religiosa se tornou antropocêntrica e nunca teocêntrica.
 
Na lógica do pensamento religioso pentecostal, Deus está a serviço dos caprichos humanos, ao invés de o indivíduo ser submisso e  estar á disposição dos princípios do Criador.
 
De certa forma, as igrejas acabaram se transformando em balcões de serviços religiosos e a relação do ministro com o fiel, acabou se tornando a mesma do empresário para com o cliente.
Redobram-se os esforços de oferecer uma maior gama de atividades que agradem os fiéis, que a esta altura e sem perceberem, tornaram-se ferozes consumidores religiosos com um nível de exigência tremenda.
 
A pergunta que fica é:

Em que sentido este cristianismo pregado por alguns segmentos evangélicos pentecostais que acompanhamos hoje pela tv se encaixa nos valores revelados por cristo em sua concepção de Reino de Deus?

Eis a questão.

Um comentário:

  1. Muito difícil quem fale sem "meias palavras" sobre esse assunto! Precisamos falar abertamente, alertar sobre esse tal cristianismo que muitas vezes quer se fazer maior do que o próprio Cristo!

    PS: Frei, você não está mais em Teresópolis?! Fiquei triste quando soube! Queria tanto que você celebrasse meu casamento!

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