domingo, 4 de novembro de 2012

Sobre a Tragicidade da Vida.




Desde o nascimento da consciencia, homens e mulheres se questionam sobre a presença do Mal no mundo.

Perguntas do tipo:

Porque a natureza é tão agressiva e mata indiscriminadamente?
Porque o câncer atinge tantas pessoas com diferentes históricos de vida?
Porque morrem rapazes e moças prematuramente em acidentes de carro?
Porque alguns prosperam e enriquecem, enquanto outros, morrem pobres?
Porque eu fui roubado e meu vizinho não foi?
Porque sofre o justo da mesma forma que o homem mau?


A verdade é que a Filosofia especula, a religião oferece respostas, mas ninguém é capaz de anular o peso, a força e o mistério do sofrimento que na vida, assola todos nós.

Conversava ontem com um casal de amigos que recentemente sofreu por uma tragédia na cidade. 

O rapaz morreu tragicamente num acidente de automóvel em que a carga do carro da frente (no caso, uma caminhoneta que portava toras de madeira), na batida, veio a esmagar a cabeça do rapaz que estava no banco da frente.
Sem qualquer chance de sobrevivência, o rapaz morreu na hora na frente de seus amigos. Mais uma morte sem "explicação".

 
A Morte chega repentina e sorrateira também para os justos.
Além da percepção do caráter efêmero e provisório da vida, resta a nós o sentimento de impotência diante dos desastres que se perpetuam na civilização.

Além desse mal que se revela sem lógica e explicação...

precisamos entender que há um mal que se ramifica em todas as dimensões da vida humana e tem a ver também com imperfeições morais, com a desordem dos fatos.
Viver não tem lógica, e se torna cada vez mais difícil encaramos o dia-a-dia com tanta contingência e tanta inexatidão do "porque" das coisas acontecerem como acontecem.

Esse mal é responsavel pelos descontentamentos interiores...

pelos desmantelamentos históricos e pelo desespero existencial de muitas pessoas: a violência, a inveja, a maledicência, a ira, a leviandade, a promiscuidade, etc.
A quantidade de mal que se acumulou nos breves milenios da história podem encher "piscinas de sangue inocente".

Tenho a impresão de que a crueldade que oprime a humanidade não pode ser fisicamente explicada.
Alguns consideram que a própria evolução natural e o progresso das civilizações não se daria sem sofrimento.
De tão tremendamente frágil, a vida é, simultaneamente, fugaz e eterna.
O tempo não cessa de desintegrá-la da mesma maneira que a constrói.
 

"A cada dia renascemos um pouco e também morremos para o absoluto."

Para cad
a onteam que já foi, surgirá um amanhã sem respostas.
Como dizia o escritor argentino, Jorge Luiz Borges:
 

“A vida é rica e ao mesmo tempo, pobre demais para não ser também, imortal”.
 

Vivemos na dimensão em que luz e trevas andam juntos.
O silêncio do Absoluto ressoa pelos cantos remotos de um universo paralelo ao cosmo.

No tempo, haverá sempre o já percorrido e o ainda a decifrar.
Os rastros que ficaram nas estradas que percorremos, valem muito. 
Sei que no ato de lidar com o sofimento no mundo está o ato do conhecimento de minha própria vida.

Não sou fatalista.

Não acredito sinceramente que as coisas já estejam pré-definidas a acontecer.
Creio firmemente que só existe possibilidade de verdadeira construção da história se o futuro não estiver ainda determinado.
Qualquer sistema de pensamento que trabalhe com a "inevitabilidade histórica" jamais terá utilidade transformadora.

Os deterministas tentam explicar a história a partir "impossibilidade" de explicação das engrenagens da vida.
Considerar o futuro como algo já estruturado, é conceitualmente enganoso e uma tremenda tolice.
 A tendência que tenta explicar os comportamentos humanos e os desdobramentos das ações das pessoas depois que as coisas acontecem, num mundo que é essencialmente livre, revela-se fatalista e infantil, como disse Reynold Blank.

Nada está totalmente pronto.
Alguns anos atrás ouvi falar de uma tese no mínimo interessante.

Que os atos humanos e a formação do carater de uma pessoa eram influenciados pelas caracteristicas genéticas dos antepassados. 
Daí surgiu a tese do "pré-determinismo genético de carater".
 

Não posso ser influenciado pelas caracteristicas genéticas de meus antepassados, sendo eu um ser livre por excelência.
 

O "quem sou"  é determinado pelas minhas próprias escolhas, e acreditar em outra coisa – digamos, na pré-destinação, no fatalismo ou no "acaso" – é em si mesmo uma escolha, e, ainda por cima, uma escolha particularmente covarde.
Não acham?

Considero essa tendência de considerar de forma fatalista a Vida...

um sintoma da natureza específica do homem: fugir da responsabilidade de assumir e re-fazer a história.
Tendências como considerar o futuro inalterável – como mera repetição do passado – ou a busca por desculpas, para explicar os fatores que levou a humanidade a agir de tal e tal forma, é uma hipótese pouco convincente e barata diante da liberdade que o ser humano tem de se transformar, e de transformar a história.
 

O Nazareno não nos revelou outro propósito para a vida, senão a própria VIDA quando disse:

"Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância."

Enganar-se a si mesmo diante da tragicidade da vida é a hipótese que não devemos escolher.
Ser livre é ser capaz de fazer uma escolha não forçada, e escolhas não forçadas acarretam sempre em possibilidades concorrentes.
 

Creio firmemente nisso.
 
Salamaleiko.

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