domingo, 13 de setembro de 2009

Homo Sum et Nihil Humani a me Alienun

Horizonte Distante.
Uma mente Brilhante.



HOMO SUM ET NIHIL HUMANI A ME ALIENUN
"Sou humano e nada do que é humano me espanta"

Aceito o desafio de começar escrevendo este texto fazendo um desabafo. Confesso que há um pouco de tristeza em meu coração esta semana.

Depois que vi novamente o filme "Uma mente Brilhante" na última quarta-feira, alguns insights surgiram em minha mente e meu desejo de estudar mais e mais os casos clínicos da psiquiatria aguçaram em mim uma dor que não quer passar.

Por isso fiz um compromisso ético com minha alma. chorei por duas vezes nestes dias. Há tempos isso não acontecia. Hoje, com este artigo celebro feliz meu choro e meu lamento.

Já decidi: investirei mais tempo na leitura de temas relacionados às ciencias humanas. Filosofia e psiquiatria já são parte de meu recreio, de minhas noites de leitura e de minhas investidas literárias semanais.

Quero compreender e aceitar as fragilidades do viver humano com mais compaixão.
Quero aceitar que conceitos como a tristeza, inexatidão lógica na forma de pensar, devaneios sem nexo, presságios, angústia por não saber tomar a decisão certa são engrenagens que fazem parte também da esfera de meu mundo. E não só dos que consideramos "anormais".



Confesso que sentimentalismo e nostalgia sempre foram temas presentes em minha vida. Certa vez me deparei com um portador de alguma doença mental crônica numa rua do Rio de Janeiro. Eu era adolescente, acho.

Era domingo a tarde, o dia e a hora em que sinto mais nostalgia. Não é atoa que justamente agora decido postar este texto....

Eu andava ali pelo centro, sozinho, taciturno, sem rumo e sem pressa quando um homem dito por "louco"  me fazia enxergar um mundo que era só seu. Sentia a solidão em seu peito. Ele remexia jornais velhos e rasgados enquanto brigava com o vento. E como  admirador secreto de sua poesia viva, eu o olhava.

Começei a entender, que sozinho, ele não estava em seu mundo.
Eu já era parte do dele. E ele parte do meu.

Desde esse tempo, e depois que tocado pela urgencia desta "sacra arte" de aceitar o diferente bem perto de um mundo que "era também meu", descobri minha paixão pelo mundo alternativo e paradoxal dos ditos "loucos". Ezquisofrenia era o nome daquela sina.

Depois de um tempo, descobri que na ezquisofrenia, a discrepância entre o mundo real e o mundo imaginário não é apenas uma questão teórica. um fio de nylon que separa e une dois mundos num só.



Aceito que só eles tem a sublime condição de dizer:

"existe um mundo além, e existe o além dos além".

Amo essa discrepância nominal cognitiva.
Amo essa "aberração sem berro" de perceber um mundo para além daqui.
Amo essa forma límpida e alternativa de conceber o real sob outro prisma.
Amo essa visão distorcida e sem lógica de ver e encontrar lógica aonde não há.
Amo essa capacidade de se comunicar com coisas que para eles tem vida, e creio, tem mesmo.

Por conta disso, com eles, acho que aprendi a ser sensível. No passado, engolia o choro, disfarçava a tristeza, fugia da melancolia. Quando adolescente, lembro-me de tempos e tempos em que me sentia isolado e distante do "padrão normal" de meus contemporâneos.

Digo aqui...já chorei muito quando menino, sentia-me sem rumo, sem futuro, sem metas e sem amigos verdadeiros. Um Eduardo tímido e de poucos amigos emergia de mim sem saber porque. Mesmo com tanto amor, zelo e carinho de meus queridos pais, fui assim.

Para a surpresa de alguns, se posso dizer, quase fui um menino melancólico e depressivo. Introspectivo e visionário, gastava tempo "pensando e vendo" coisas que os meninos normais da minha geração (minha rua) sequer imaginavam. Hoje, rendo graças ao bom pai por aquele tempo. Vida que segue....

"Ó Deus do tempo, dai-me luz."




Fiz as pazes com as lágrimas. Hoje, sem medo, falo sozinho.
Aconselho-me com as árvores. 
Ando por estradas desertas. Caminho sem pressa.
subo montanhas para ver o pôr do sol. 
Aprendo com os ventos.
Confesso que amo estar com quem sabe levar a vida numa boa.
Já não soluço prantos sem lágrimas.
Busco o silêncio na calma e no coração de quem me quer bem.
Mas ainda assim hoje choro uma tristeza.

A tristeza que não tem nome.
Talvez se chame saudade.
Saudade de um tempo que não volta atrás.
Saudade, saudade.

Hoje confesso:
Anseio por doçura. Tenho sede de bondade.
Busco a grandeza de quem ainda sabe rir e chorar.
Por isso choro. Aprendo com a leveza dos pequenos, dos esfolados e crucificados pelo sistema.



Choro com o Geraldo  Rocha que esteve uma de nossas celebraçoes e me pediu uma benção com os braços erguidos ao eterno. Sua presença foi um presente do alto.
Choro porque só eles tem poesia verdadeira e não sabem.
Só eles fazem parte de um mundo que foi o mesmo mundo do nazareno.

O mundo do Geraldo, o mundo da estamira, o mundo dos esquisofrenicos, o mundo dos melancólicos marginalizados, o mundo do messias crucificado é um mesmo mundo, redimido pelo eterno, santificado pelo dom do alto.

Essa é a questão.

"Sei que mesmo quando não podemos mais falar, quando a nossa dor é tão grande e que mal podemos mover os lábios para chorar ou expressar, mesmo assim não estamos sós".

Ele está conosco. Isso é o que interessa.
Salamaleiko.

Frei Eduardo F. Melo
13 de setembro - 2009.

3 comentários:

  1. Que texto lindo! Ler tudo isso me fez pensar nessa distancia entre o pensamento do mundo e os propósitos de Deus. A gente às vezes quer tanto se adequar ao mundo que não percebe a beleza desse mundo "avesso". Busca tão longe o que pode estar perto. Bom lembrar que Ele está conosco, que Ele faz parte do nosso mundo...

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  2. Chorei junto!! Acho que ainda não fiz as pazes com as lagrimas..heheh

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