segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Sobre o Destino e a presença do Mal no Mundo - Parte 1.


Desde o nascimento da consciencia, homens e mulheres se questionam sobre a presença do Mal na História.
Perguntas do tipo:
Porque a natureza é tão agressiva e mata indiscriminadamente?
Porque o câncer atinge tantas pessoas com diferentes históricos de vida?
Porque morrem rapazes e moças prematuramente em acidentes de automóveis?
Porque alguns prosperam e enriquecem, enquanto outros, morrem a mingua no ralo da história?
Porque eu fui roubado e meu vizinho não foi?
Porque o bom sofre da mesma forma que o mau?

"A Filosofia especula, a religião oferece respostas, mas ninguém ainda foi capaz de anular seu peso, sua força e seu mistério que esmaga indiscriminadamente todas as pessoas."

Conversava ontem com um casal de amigos que recentemente sofreu por uma tragédia na cidade.
Seu filho, um jovem (não citarei o nome para guardar a identidade da pessoa) morrera tragicamente num acidente de automóvel em que a carga do carro da frente (no caso, uma caminhoneta que portava ripas de madeira), na batida, veio em direção ao corpo do rapaz que estava no banco carona.
Sem qualquer chance de sobrevivência, e sem a mínima explicação plausivel, fomos testemunhas de mais uma morte sem "explicação".

A Morte chega repentina e sorrateira também para os justos.
Além da percepção do caráter efêmero e provisório da vida, resta a nós o sentimento de impotência diante dos desastres que se perpetuam na civilização.

Percebo que há um mal que se ramifica em todas as dimensões existenciais e ele tem a ver também com imperfeições morais, com a desordem dos fatos.
Viver não tem lógica, e se torna cada vez mais difícil encaramos o dia-a-dia com tanta contingência e tanta inexatidão do "porque" das coisas acontecerem como acontecem.

"Esse mal é responsavel pelos descontentamentos interiores, pelos desmantelamentos históricos e pelo desespero existencial de muitas pessoas."

A quantidade de mal que se acumulou nos breves milenios da história podem encher "piscinas de sangue inocente".
Tenho a impresão de que a crueldade que oprime a humanidade não pode ser fisicamente explicada.
Alguns consideram que a própria evolução natural e o progresso das civilizações não se daria sem sofrimento.

De tão tremendamente frágil, a vida é, simultaneamente, fugaz e eterna.
O tempo não cessa de desintegrá-la da mesma maneira que a constrói.
A cada dia renascemos um pouco e também morremos para o absoluto.
Para cada ontem que já foi, surgirá um amanhã sem respostas.

Como dizia Jorge Luiz Borges:
“A vida é pobre demais para não ser também imortal”.
Lindo! Magnífico!

"Vivemos na dimensão em que luz e trevas se confundem, o silêncio do Absoluto ressoa pelos cantos remotos de um universo paralelo ao cosmo."

 
No tempo, haverá sempre o já percorrido e o ainda a decifrar. 
Os rastros que ficaram nas estradas que percorremos, valem muito.  

Sei que no processo do conhecimento de minha própria identidade, preciso saber-me reconhecer diante do espelho.
Quando não consigo dizer o nome de quem vejo lá dentro, ou de situar-me na história, corro o tremendo risco de ficar perambulando por um futuro que não é o meu, acreditando ser quem não sou.

Não sou fatalista. Não acredito sinceramente que as coisas já estejam pré-definidas a acontecer.
Creio firmemente que só existe possibilidade de verdadeira construção da história se o futuro não estiver determinado.
Qualquer sistema de pensamento que trabalhe com a inevitabilidade histórica, jamais terá utilidade transformadora. 

Os deterministas tentam explicar a história a partir "não possibilidade" de explicação dos fatos.
Considerar o futuro como algo já estruturado, é conceitualmente enganoso.

"A tendência que tenta explicar os comportamentos humanos e os desdobramentos das ações das pessoas depois que as coisas acontecem, num mundo que é essencialmente livre, revela-se fatalista e infantil".

Nada está totalmente pronto.
Sou da tese de que não existe pré-determinismo genético.
Não posso ser influenciado pelas caracteristicas genéticas de meus antepassados, sendo eu um ser livre por excelência.
Sou determinado pelas minhas próprias escolhas, e acreditar em outra coisa – digamos, na pré-destinação, no fatalismo ou no "acaso" – é em si mesmo uma escolha, e, ainda por cima, uma escolha particularmente covarde.

Considero essa tendência fatalista diante da Vida como um sintoma da natureza específica do homem.
Tendências como considerar o futuro inalterável – como mera repetição do passado – ou a busca por desculpas, para explicar o que não se pode entender, é uma hipótese pouco convincente diante da liberdade que o ser humano tem de se transformar, e de transformar a história.

"O Nazareno não propôs outro propósito para a vida, senão a própria vida quando disse:
eu vim para que tenham vida e vida em abundância."

Enganar-se a si mesmo talvez seja uma hipótese que não podemos escolher conscientemente.
O sofrimento nos torna pouco lúcidos em certos momentos.
Como disse o filósofo: "na dor, toda carne se trai."

"Ser livre é ser capaz de fazer uma escolha não forçada, e a escolha não forçada acarreta possibilidades concorrentes." 

Creio firmemente nisso.

Continua nos próximos dias.
Salamaleiko.

Frei Eduardo F. melo
Santa Teresa - ES.
13 de setembro - 2010.

2 comentários:

  1. Eu não discordo, mas também não concordo plenamente.
    "Sou da tese de que não existe pré-determinismo genético." Também creio,afinal estamos sob o poder do livre arbítrio.

    ^^

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  2. Nada pior que o medo para deixar uma pessoa estagnada na sua condição, ele é paralisante. Renata.

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