Carlos Leitores do Raízes da Alma,
Salamaleiko!
Depois de um longo inverno sem postar noticias em nosso canal de comunicação, decidi retomar as atividades do Blog dedicando uma série de textos sobre um dos assuntos mais interessantes da Teologia. O texto de hoje é o primeiro de uma série biográfica sobre a atividade de Jesus e seu ministério na Galiléia.
Concordo que os textos postados nesta série são considerações iniciais, curtas e simplistas, leituras transversais da pessoa de Jesus, retiradas de livros e abordagens da cristologia que venho fazendo em meus poucos anos de pesquisa teológica. Espero que a abordagem do tema nos ajude a aprofundar nosso afeto e conhecimento da vida e do modo de agir do carpinteiro de Nazaré.
Boa leitura a todos.
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Jesus e a Liberdade Humana.
Jesus foi antes de tudo um ser
humano livre.
Fez resplandecer sua Liberdade diante dos seus adversários.
Seu exemplo de homem livre e despojado emancipou
a consciência dos seus discípulos e abalou fortemente o poder daqueles que
pretendiam discipliná-la.
Morreu depois de três anos de vida pública apenas,
porque de alguma maneira, não quis ocultar nem sequer atenuar as manifestações
exteriores de sua liberdade.
Jesus e a falsa prudência religiosa de seu tempo.
Jesus morreu porque desafiou a falsa prudência e a sabedoria de gente poderosa.
Sua liberdade ameaçava o “status
quo” dos religiosos de plantão.
O mais bonito notar em Jesus é que essa sua liberdade
não era apenas um traço de seu caráter, mas um sinal distintivo de sua
personalidade.
Jesus mostrou-se e agiu como um homem livre porque a liberdade e
a libertação eram o núcleo essencial de sua mensagem.
O apóstolo Paulo resume
essa mensagem de Jesus em poucas palavras: “Fostes chamados em cristo à
liberdade”(Gálatas 5, 13) e outra: “para sermos Livres, é que Cristo nos
libertou!” (Galatas 5, 1).
Jesus e a Livre aspiração à Liberdade.
Essa aspiração à liberdade, esse
sentimento de depender só do Pai, Jesus não retirou de uma cartola mágica, não
o inventou, nem o criou: Ele encontrou essa profunda aspiração à Liberdade no
meio de seu povo.
A diferença é que ele soube levar até as ultimas
consequências sua vocação à liberdade e conseguiu suscitar do fundo da alma de
seu povo de Israel uma exigência absolutamente radical como nenhum outro
israelita tinha feito até então.
“Os judeus diziam de si mesmos
com orgulho: Somos descendentes de Abrãao e jamais fomos escravos de ninguém”.
(Joao 8, 33)
Com essa afirmação, os judeus
queriam dizer que eles jamais tinham aceitado a escravidão. Tinham sido
escravos no Egito e na Babilônia. Tinham conhecido reis e imperadores que os
reduziram à condição de oprimidos. Porém, jamais aceitaram essa condição de
escravos com conformismo e como destino inelutável.
Jesus e a expectativa de um novo Messias.
Diante das manifestações de
Jesus, o povo espontaneamente o identificou como o Messias, isto é, com aquele
de quem se esperava a Libertação. Jesus, por outro lado, não correspondeu a
esse apelo do povo e não admitiu ser aquele que se esperava. Jesus não queria
que se espalhasse o rumor da chegada do Messias, mas aceitou que Pedro o
identifica-se como “O messias”.
Jesus e a chegada do Reino.
Podemos afirmar que tudo o que
aconteceu na vida e no ministério de Jesus se desenrolou tendo por base a
preocupação com a chegada do Reino e com a conquista da Liberdade. Jesus
nasceu, cresceu e se formou no meio de um povo preocupado com a liberdade.
Recebeu deste povo o senso de Liberdade. Nele próprio, a consciência da sua
missão se desenvolveu em sintonia com as angustias e as aspirações de um
profundo desejo de liberdade para cultuar e servir a Deus.
Liberdade e Família
Jesus viveu livre. Não dependeu em nada de sua família.
O único episódio
que os evangelhos nos relatam da relação de Jesus com sua família mostra-nos um
adolescente já consciente de sua independência em que sua vocação o coloca.
Quando os de sua casa querem prendê-lo ele não se submete ao que lhe contradizem em sua tarefa:
"Jesus não se fiava no que diziam a seu respeito, porque os conhecia a todos. E não precisava de que lhe dessem testemunho a respeito das pessoas, porque bem sabia do que havia no coração do homem..."(João 2, 23)
Jesus não se ligou a nenhuma associação, a nenhum partido político ou religioso.
Neste sentido pode-se afirmar que politicamente era um anárquico. Submisso a Deus como todo bom judeu Jesus frequenta o templo. Não se submete
à nenhuma sinagoga, como era costume entre os judeus, mas prega livremente dentro
delas aos sábados. Também permanece independente de qualquer escola teológica
onde se formavam os escribas. Jesus não busca diplomas, não é ávido de reconhecimento intelectual e nem necessita do apoio das leis ou da politica para defender suas idéias ou propriedades.
Jesus nada pediu aos ricos nem as autoridades.
Jesus não pediu nem licença, nem
apoio nem colaboração. Apenas no momento derradeiro de sua vida terrestre, pediu para si a oração dos seus amigos. (Mateus 26, 38)
Jesus dispensou completamente a ajuda dos poderosos.
Sem dúvida
essa foi para eles a maior ofensa, o que mais feriu a autonomia dos lideres religiosos: jesus mostrou que não precisava deles!
Jesus visita pessoas ricas,
fariseus, pessoas notáveis, sem no entanto, pedir-lhes qualquer ajuda. Recebe
um homem importante como Nicodemos (Joao 3) mas não lhe pede nenhum apoio nem
uma intervenção favorável de alguma pessoa influente no Sinédrio.
Diante das autoridades eminentes Jesus nunca se resignou.
Pilatos
estranhou sua postura: esperava que Jesus apelasse para sua clemência.
Teria sido
uma ótima ocasião para mostrar seu poder de “imperador”. Decididamente Jesus
mostrou-se inflexível. Diante da possibilidade de acusação qualquer um de nós
abaixaria a cabeça e pediria perdão. Mas Jesus não deu sequer um passo para facilitar
as coisas no sentido de pedir indulgencia para si.
"Diante do autoritarismo sarcástico
dos opressores do seu povo Jesus não proferiu nenhuma palavra para abrandar sua
pena. Desde o inicio de sua vida não quis dever nada a ninguém. Nenhuma pessoa pôde
se vangloriar nesse mundo de que ele, Jesus, lhe devia a vida ou a
tranquilidade."
Jesus foi inflexível sem arrogância, mas irredutivelmente inflexível.
Essa característica marcou tão
profundamente os primeiros cristãos que os mártires se inspiraram se inspiraram
claramente nele nas respostas que deram aos processos que sofreram da parte dos
poderosos romanos.
Jesus e o confronto com o Farisaísmo
Os fariseus logo perceberam que o
alvo principal das denuncias de Jesus eram eles. Justamente eles, o partido
mais religioso, mais radical e mais ortodoxo dentro do Judaísmo tradicional.
É
bem verdade que a luta de Jesus não vai diretamente contra as autoridade
sociais nem contra as autoridades judaicas com um todo: é apenas uma luta
contra um “partido religioso”, contra “uma interpretação” da religião judaica.
Porém,
as autoridades percebem muito bem que essa interpretação de Jesus não é uma opinião
qualquer de uma nova escola rabínica. Advinham que esta nova interpretação
questiona a sociedade inteira. E os fariseus não estavam dispostos a deixar que
a sociedade fosse questionada. Isso poderia desarticular toda a estrutura religiosa pregada até então...
Questões Práticas:
1- O que significa dizer, olhando para Jesus, que a liberdade custou um preço caro diante do sistema religioso de seu tempo? E para nós hoje quanto vale a liberdade de ser cristão?
2- Olhando para a Liberdade de Cristo, preferimos a liberdade com sofrimento ou a Felicidade sem a verdadeira liberdade?
3- Quais os motivos que levaram Jesus a ter tanta resistência ao fundamentalismo dos fariseus?
Continua na próxima semana...
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