terça-feira, 2 de outubro de 2012

O velho e o rio.







Ultimas Lembranças.

Há muito tempo eu seguia por uma estrada deserta. 
O calor terrivel daquela tarde fustigava minha cabeça e minha barba descoberta.
Eu tinha sede e fome. Achava-me sozinho no meio de uma estrada deserta.
Sedento e com os pés inchados, notei a presença de um velho caminhando à minha frente. Era um homem de passos lentos. Alcancei-lhe.


- Boa tarde, companheiro! Fiz uma saudação timidamente.
Sem responder a saudação, perguntou-me: – Quem é você?
- Um viajante qualquer. Respondi com leveza. 
Não queria identificar-me.
- Eu sou Raimundo e não gosto de rimas engraçadinhas.


Seus olhos estavam vermelhos, a boca esbranquiçada com saliva seca e as veias do pescoço, latejavam.
-Estou cansado desta estrada, deste caminho, desta jornada.
Falei para solidarizar-me com o seu semblante abatido. 
Ele parecia um velho cansado.
[Pensei que um dia ficaria exatamente como ele!]. Sonho de adolescente: ficar um velho barbudo!


Ele me olhou pela primeira vez.
Mirou-me com um pai, pronto para aconselhar o filho.
- Eu também estou mal, muito mal. Sinto-me exausto. 


Semelhante ao homem que acabou de quebrar um caminhão de pedras...
depois olhou para o lado e descobriu que mais dois caminhões esperavam por ele. 
- Ando sem ânimo com a paisagem, meu filho!
Prefiro andar sem ser importunado! – disse o velhinho. 
Não aguento mais cobranças. Há tempos não quero ninguém ao meu redor. 
Chega! Ele gritou com raiva.


Contei ao velhinho algumas experiências que havia tido recentemente.
Falei dos nos anos que gastei andando naquela estrada. 
Confessei que precisava encontrar um amigo que fosse parceiro por aquela trilha que cruzava montanhas e desaparecia no horizonte.


Raimundo me disse que eu só o encontrei porque ele estava velho. 
No meio daquela estrada ele não conseguia manter o ritmo dos primeiros quilômetros.
- Siga na sua velocidade, não espere por mim!
Seu conselho soou como despedida.


Antes que nos separássemos na bifurcação que se abria na estrada, falei:
- Estou com um nó na garganta, uma vontade de chorar entalada que nunca se transforma em choro, mas que me incomoda e abate. 
- O que devo fazer? perguntei, sem graça.


Esperava que Raimundo permanecesse calado, mas o franzino viajante retrucou:

- Não queira recomeçar, não tente antecipar o que vem pela frente, não se deixe doer pela falta do diálogo e pela incompreensão das pessoas.   
[conselhos pertinentes ao momento!]

Aprenda a caminhar sozinho, e faça do seu suor sua única companhia.
O velho parou, mirou o chão quente e sussurrou:
- Depois de tantos anos nesta estrada, minha vontade é não fazer nada, não conversar com ninguém, não saber de coisa nenhuma. 
Sigo em frente sem destino e sem rumo. - Disse ele.
Quer saber mais? Vou forçado. Sou peregrino por obrigação. 
Vejo a vida como sina que tenho que cumprir.
Olhei o velho com o olhar de tristeza. 
Disse a mim mesmo: nao quero chegar ao fim da jornada assim!


Estávamos proximos da encruzilhada que nos separaria.
O velhinho apontou o dedo para a direita, como alguém que tem autoridade, indicando o lado que eu deveria seguir e arrematou: – É mais seguro.


Acenei-lhe um adeus sem palavras.
Percebi o quanto aquele encontro me ajudara.
De longe, Raimundo gritou: 
– Boa sorte, peregrino viajante!
E terminou dizendo:

O melhor ainda esta por vir!


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