sábado, 6 de novembro de 2010

Neuras e Fé - duros pressentimentos.



Acabo de voltar do hospital e meu coração está em prantos.
Vi em silêncio a morte duma criança no colo de uma chorosa mãe.
Era quase meia noite.
A hora que a dor se aproxima dos que jazem sozinhos no esquecimento.
Do lado de trás da porta do quarto 112 uma senhora me indagava porque Deus tinha permitido levar sua neta tão cedo.
Lamentava-se porque tinha Fé e não entendia o porque do "desígnio divino".
Eu queria ter respostas. Mas minha crença vacilante, não ousou olhar no semblante de quem ali me revelava o que era Fé.

Para mim, Fé é acreditar que os valores e princípios do Evangelho bastam para que uma pessoa enfrente a vida com todos os seus percalços.
Olhando para os personagens da bíblia percebo que eles não precisaram arranjar suas vidas e nem se blindaram contra os males do mundo para vencer as mazelas da história.
Igual a eles, também  não quero viver numa redoma.

Creio que Fé é acreditar que o Espírito Santo nos dá gana de olhar para a História com coragem sem precisarmos apelar para a mágica, nem para o feitiço nem para o pensamento sobrenatural.
Por causa da Fé, não devemos pedir para sermos poupados da dor.

Andando pelas estradas da Palestina, tive uma intuição.
Percebi que a Fé dos homens e mulheres da bíblia nos convoca para andarmos nas pegadas do mestre da Galiléia, e que nunca devermos nos deixar dominar por qualquer sentimento ou sistema que gere morte.
Simplesmente porque Ele venceu os grandes impérios que causavam dor e angústia.

Creio que a verdadeira Fé significa olharmos o estado de coisas em que chegou o mundo e paramos para gritar condenando abertamente o que é anti-luz.
Podemos nos revoltar contra os valores que não refletem a vontade de Deus.
Porque ter Fé e aceitarmos cinicamente os contra-valores da sociedade é o mesmo que sabermos da eminência de um terremoto e não darmos o alerta para que as pessoas se salvem.

Hoje, relendo os textos sagrados compreendi que existe uma Fé profética e visceral, que me convoca a gritar NÃO!
Deus hoje me deixou inquieto e angustiado.
Aceito seu silêncio com paciência.
Vivo uma vida confortável que hoje foi jogada em minha própria cara.
Vivo atrelado a um sistema burguês capitalista que legitima a dominação sobre os mais pobres.
Saio pelas ruas atrás dos que morrem de fome, e vejo apenas alguns bêbados na calçada da miséria.

Hoje quero ter somente peito para aceitar o risco de viver sem apoios humanos..
Desejo viver a liberdade prometida por Cristo e almejar uma única segurança:
Saber-me amado com gratuidade por Deus.

Essa é a questão.

Frei Eduardo F. melo
Santa Teresa - ES
6 de novembro - 2010

3 comentários:

  1. É verdade, por causa da dor vivemos a fé plenamente.
    Precisamos de mais pessoas que olhem a fé como ela realmente é: dor, entrega, confiança, resignação, paz interior...

    Deus te abençoe

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  2. Certas horas não sabemos mesmo o que dizer, talvez, porque um abraço que consola, um olhar de misericórdia ou o silêncio que respeita digam mais, muito mais que palavras.
    Lembro-me agora de uma vez em que eu e um amigo indo para uma reunião sobre oração, fomos surpreendidos por um homem bêbado que se aproximou e disse: - "Ensina-me a conhecer Jesus?". Fiquei muda, só consegui pedir a Deus por ele; o meu amigo, então, o perguntou: - " O que o senhor tem feito para encontrar Jesus?" e ele saiu falando qualquer coisa que não lembro mais. Até hoje me recordo desse dia, mesmo sem dizer uma palavra, rezei por aquele homem. Penso que Deus permite que algumas situações aconteçam para que saibamos o significado da palavra MISERICÓRDIA e que se muitas vezes julgamos que ele se cala diante dos nossos questionamentos, na verdade, está respondendo de outra forma.
    PAZ E BEM .
    Ana Paula – Paróquia Santo Cristo dos Milagres

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