Revisitando Pensadores Contemporâneos - Parte 1

André Torres Queiruga ...

continua sendo um marco na Teologia Ocidental.

Lembro-me que li quatro obras clássicas deste, que é um dos mais renomados pensadores da Teologia Contemporânea. Dentre elas (lançadas pela Ed. Vozes), estão:

"Fim do Cristianismo Pré-Moderno: Desafios para um Novo Horizonte"

"Recuperar a salvação"
"O Que Queremos Dizer Quando Dizemos Inferno?"

"O Cristianismo no Mundo de Hoje."

Seus posicionamentos Filosóficos e Teológicos revelam tremenda relevância no contexto da Crítica Literária atual, e por conta disso suas teses conseguem abrir uma gama de reflexões interessantíssimas sobre os mais variados campos do conhecimento relacionados à fé.

Lembro-me que fiz um trabalho na graduação em Teologia sobre o Tema da Onipotência  em Deus a partir de uma Obra sua. Hoje reporto alguns insights surgidos depois da leitura daquele texto.

Boa leitura.

Salamaleiko a Todos!

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Deus é Onipotente. Aliás, não crer na onipotência divina seria igual desacreditar da própria existêcia da divindade - um deus sem poder não é Deus.

Fé não se limita a acreditar em acontecimentos extraordinários.

Crer em Milagres e acreditar-se protegido por Deus só por causa da fé, não é critério para dizer que a fé de uma pessoa é mais autêntica ou verdadeira.

Diferentemente do paganismo, a cosmovisão cristã convoca que se confie em Deus para enfrentar as contingências da vida com coragem, nunca para que esta mesma Fé blinde a pessoa de qualquer percalço.

Fé Cristã não tem a função de antecipar prodígios e exigir de Deus intervenções sobre-naturais.

Fé não significa que quanto mais orarmos ou mais obedecermos a Deus, mais ele agirá em nosso favor.

Fé não é um mecanismo que dispara uma "força" para que livramentos e curas sejam realizadas segundo as nossas vontades.

Fé não se limita em acreditar que Deus sempre agirá com poder.

Partindo-se da idéia de que existe um Deus criador e controlador do Universo, esta verdade é evidente e consta em todas as tradições religiosas monoteístas, inclusive nas tradições Judaicas e Islâmicas.

Sempre que se reflete sobre milagre na Igreja, as reações que vemos são as mais emotivas possiveis, mas surge sempre uma pergunta:

Diante de alguns acontecimentos e tragédias da vida humana,

Deus poderia intervir ou não?

Será que Ele, na sua infinita sabedoria e no seu plano eterno, escolhe alguns para serem salvos e simplesmente condena outros ao fatalismo e ao sofrimento?

Diante da problemática da Teodicéia (de saber ou não porquê Deus permite que tais coisas aconteçam) precisamos rever outro Conceito: o Conceito da Graça.

A questão maior é saber se Deus quer que a vida humana se organize com intervenções causais suas.

Proponho que não!

Sua intenção não é agir como um relojoeiro, que a todo momento dá cordas no relógio.

Sua intenção não é agir como um maquinista conduzindo vagões no trem da história.

Sua intenção não é agir como um grande técnico em computação, que fique arranjando cada pequeno movimento dado pelos seres humanos no universo.

O que podemos afirmar é que as INTERVENÇÕES DIVINAS, quando acontecem, estão ligadas a um propósito maior e eterno, advindas do coração de Deus e as pessoas não podem ter quaisquer ingerência sobre elas. 

Milagres são Mistérios.

A religiosidade que promove a expectativa de livramentos e de curas como se Deus tivesse que agir (sempre que um líder religioso invocasse e ordenasse sua ação) tem sido responsavel por processos de infantilização terriveis no mundo evangélico atual.

Homens e mulheres, acreditando cegamente no "poder que têm pela Fé", acreditando-se ungidos e capacitados a dar "ordens de comando" para Deus, revelam ao mundo uma religiosidade que mais tem de paganismo que propriamente de fé cristã.
Explico-me.

No paganismo, os fiés são ensinados a dar oferendas para a divindade para que seu ódio e sua indiferença para com a história humana seja apaziguada.

Na perspectiva pagã...

se ensina que a divindade de antemão está contra a humanidade, e por isso carece de sacrificios que "aplaquem " sua ira. Inclusive, sacrifícios são oferecidos tendo em vista o mal dos outros (basta pensar no exemplo das oferendas às divindades das religiões afro-brasileiras como Umbanda e Candomblé).

No Cristianismo, Deus não precisa de nada para nos amar, muito menos para nos tratar com cuidado.

Deus nos quer bem e seu amor pelo ser humano é gratuito, não espera nada em troca.

Ele abençoa sem exigir méritos.

Seus afetos pela humanidade independem da qualidade moral ou das práticas religiosas das pessoas.

Deus não faz acepção de pessoas e não ama como reação, mas sempre com iniciativa primeira.

Deus não premia uns para abandonar outros ao léu.

Deus não elege uns poucos, e depois volta as costas para a maioria das pessoas que nasce e ainda são chamados por certos segmentos evangélicos de "filhos da Ira".

Portanto, quando acontece um milagre podemos crer: este milagre não vem como resposta de oração (porque qualquer mérito humano anularia a graça de Deus), mas visa edificar na fé os que dele recebem a graça Divina.

Na segunda parte deste texto, trabalharemos dentro da mesma perspectiva, o tema da fé.
Salamaleiko.

Frei Eduardo F. melo

Santa Teresa-ES

21 de fevereiro de 2010.