terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Relatos Obscuros- Bastidores da Igreja Universal - Parte 1.



O culto pegava fogo...
O Frenesi das pessoas crescia a medida que o pastor berrava no ouvido dos fiéis.
Eu ali no meio tentava me concentrar para entender o que o pastor dizia.

Percebi que Ele literalmente dava ordens a Deus.
Exigia que Deus honrasse a sua palavra e que não deixasse "nenhum de seus servos sem sua benção". Enquanto os berros ressoavam para o lado de fora da Igreja ("sai capeta", "tá amarrado", Chuta Jesus") estranhei a arrogância daquele pastor.

Sua ousadia como pastor evangélico contagiava a todos.
Os fiéis pareciam valentes guerreiros cheios de coragem.
Assombrei-me na hora que ouvi a frase do pastor vinda do púlpito:

"Está na hora de colocarmos Deus no canto da parede, vamos receber nossos milagres e exigir nossos direitos." 

Foi a gota dágua. Levantei-me naquela noite e fui embora.
Tive a sensação de estar num lugar onde o demônio era mais falado que o próprio Jesus, nunca num culto onde Deus estava sendo adorado.

Frequentei por 4 anos a Igreja Universal do Reino de Deus.
Motivo simples: Eu precisava escrever minha Tese de conclusão do curso da Teologia e escolhi a Igreja Universal como objeto de pesquisa para a mesma. 

No meu pouco tempo de frequência na IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), pude tirar algumas conclusões a respeito da nova faceta que o neopentecostalismo tem representado para o mundo evangélico e religioso atual. Quero delinear aqui alguns insights surgidos no meio desta pesquisa.

Boa Leitura a Todos!

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"Nos Bastidores da Igreja Universal - algumas conclusões."


Em primeiro lugar - Noto que os ambientes religiosos neo-pentecostais se tornaram alucinatórios...
Porque geram fascínio pelo poder e a crença de que a Fé pode  criar um mundo previsivel, protegido e blindado por Deus.

Em segundo lugar- Na ânsia de se sentirem onipotentes, os cultos pentecostais produzem uma realidade de combate demoníaco por vezes fictícia.
Creio na possibilidade de reais possessões demoníacas. Mas já vi muita "manifestação" em crentes que não passavam de expressão de histeria acumulada pela influência de tantas outras neuras facilmente diagnosticadas pela piscologia.

Em terceiro lugar -  Em seus cultos, muitas Igrejas pentecostais procuram eliminar as contingências e misérias da vida humana com a imprevisibilidade dos acidentes e os contratempos do mal.
Em nome da fé, são ensinados a domesticar a vida e passam a crer no "efeito blindante" do poder de Deus que nunca poderá abandonar um de seus filhos.

Em quarto lugar - Algumas Igrejas neopentecostais almejam e pregam uma religião preventiva.
Imaginando-se aptos para transformar a aventura de viver num mar de rosas, esquecem-se que a idéia de um mundo sem percalços e sofrimentos não passa de pura alucinação.

"...Por mais que se ore, por mais que se jejue e se peça a Deus, o que acontece ao bom acontece ao mau, do mesmo jeito que a chuva cai sobre todos, afirma a bíblia."

Mas se voce está me acompanhando neste raciocinio até aqui, faço-lhe a seguinte pergunta:
Por quê, mesmo com toda essa contradição religiosa, os cultos neopentecostais continuam lotando auditórios e ganham força na mídia?

Acho que em primeiro lugar...

Os cultos neopentecostais ganham força surprendente ainda hoje na mídia pelo simples fato de prometerem aos fiéis o poder de controlar o amanhã, de eliminar a idéia dos infortúnios e "canalizar" as bençãos de Deus para  a vida do crente."

"...Assim, quando oram, pretendem gerar ambientes onde se seja capaz de prever qualquer problema, dor ou infelicidade humana para convertê-los em bens e promessas divinas."

Creio que é nesse ponto que a crítica se torna mais pertinente.

Interessante é notar que Jesus nunca fez promessas mirabolantes a seus discipulos.
Como não se permitia compactuar com processos alienantes da religião (todas elas o têm), Jesus não garantiu um mundo seguro e sem percalços para os seus seguidores.

Ao contrário, avisou que enviaria seus discípulos para o meio de lobos...
que eles seriam perseguidos, mal-comprendidos e mal interpretados e ainda advertiu que muitos seriam entregues à morte por causa de seu testemunho: "no mundo voces terão aflições". (Jo 16, 33)

Interessante também é notarmos (como no evangelho do último domingo) que quando o Espírito leva Jesus para o deserto, o diabo lhe ofereceu uma vida segura sem imprevistos e dores. 


As três tentações de Jesus no deserto foram ofertas de:
Provisão (transforme pedra em pão);
Prevenção (Deus te guardará em tua queda daqui de cima da cidade)
E poder (Tudo terás se me adorares).

Jesus, porém, rechaçou o demônio porque essas ofertas eram mentirosas.
O mundo que o diabo prometeu não existe!

"Acontece que igualmente hoje, o mundo que as pessoas preferem acreditar é um mundo de ilusões. Fugir da crueza da vida é muito mais tentador que aceitá-la com tudo o que ela é."

Na verdade, o mundo neopentecostal se desconectou da realidade.
Querem acreditar que a riqueza, a saúde e a felicidade estam pertinho dos que conseguem manipular a Deus.

Vejo que muitos "crentes" confundem...
Esperança cristã com vislumbre (quanto mais espero mais alcanço...)
Virtude com onipotência mágica (onde quanto mais se ora, Mas Deus tem que atender).
Culto religioso com manifestação de forças esotéricas.
E Espiritualidade com narcisismo religioso.


Como afirmou o sociólogo Ricardo Mariano...

"O crescimento numérico dos evangélicos não arrefecerá nos próximos anos. O problema da Igreja evangélica será certamente "qualitativo", onde o rastro de feridos e decepcionados que embarcaram nas promessas deste tipo de Igreja deixará marcas para sempre na história de pessoas".

Essa é a questão.

Pra terminar, conto uma histórinha.
Dia desses ouvi duma entrevistadora de televisão perguntando a um conhecido pastor Evangélico:

- Pastor "fulano de tal" (*): diante do terremoto e da tragédia acontecida no Haiti, a quem Deus ouvia? Ao pastor que orava e pedia milagres para lotar sua Igreja ou ao grito desesperado dos haitianos soterrados naquela noite?

Salamaleiko.

Frei Eduardo F. melo
Santa Teresa
23 de fevereiro de 2010.

7 comentários:

  1. Sua tese é ótima, e é bom reiterar também que esse povo que frequenta esses tipos de igrejas neopentecostais como a IIGD, a mundial do poder de Deus, e as demais, elas simplesmente querem um alívio rápido de seus sofrimentos e respostas rápidas, porém, o alívio rápido não acontece e quando eles questionam o pastor afirma que é porque ele não está crendo o suficiente, esse é a resposta para que o pastor saia ileso das críticas, ai que vem as respostas rápidas.

    Exelente, adorei sua tese.

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  2. ________________________

    OLá Bruno.
    Infelizmente muitas pessoas estão sendo mal formadas na teologia neopoentecostal a ponto de exigirem seus "direitos" a Deus.
    Claro, existe lá (como cá) sempre bons cristãos que levam a sério a Igreja, as palavras de Jesus, etc.
    São apenas insights, sobre texto, creio...

    "O melhor ainda está por vir..."
    Frei Eduardo F. melo
    ______________________________

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  3. Frei, e por falar em exigir direitos a Deus, lembro que em uma aula de antropologia estudavamos sobre as religiões, em um certo ponto da aula estudamos algo chamado de bruxaria que tem como fundamento controlar a entidade máxima para que está satisfaça os nossos interesses no momneto que a pessoa quisesse, a comparação pode ser um pouco exdrúxula, mas eu hoje de manhã eu imaginei algo desse tipo, engraçado é a semelhança que existe, esses pastores dessas igrejas neopentescostais parecem querer controlar a entidade maior, ou seja Deus, para que satisfaçam suas necessidades na hora que eles querem, pode ser que eu esteja bastante equivocado mas convenhamos que a uma certa semelhança, tomara que eu esteja bem equivocado.


    Outro ponto é que, muita coisa não concordo em relação a igreja catôlica aqui no Brasil, mas ora, nossa igreja não é perfeita mas ela é a que mais contribuiu para a sociedade mundial, principalmente no campo filosófico (onde é que eu mais gosto)com o grande filósofo Santo Agostinho e sua tese de mestrado das provas existênciais de Deus, logo em seguida São Tomás de Aquino, enfim, a contribuição que a igreja catôlica faz até hoje para a sociedade se faz sentir e sempre fará sentir nas futuras gerações. Nossa igreja é bastante abençoada.

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  4. O padre Antonio tb tava falando disso um dia desses... que era pra gente reparar que essas igrejas não conseguem falar do Evangelho, porque o Evangelho fala de renúncia e elas enfocam o contrário.

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  5. Parabéns pelo texto Frei Eduardo. Praticamente não frequento blogs, para falar a verdade acho que o seu é o único que leio nos últimos tempos.

    insites muito interessantes e reflexão profunda!

    seu amigo de Petrópolis

    alessandro

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  6. _______________________________

    Alessandro..voce é o cara brother..
    abraçoo..a paz.
    ____________________________

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  7. Amei a suas observaçoes sobre as Igrejas Universais,tive a oportunidade de fazer algumas visitas com professores quando fiz um curso.Parabéns,sempre acompanho seu blog

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