sábado, 30 de outubro de 2010

Nas Margens do Caminho, Eu chorei.


Á cinco meses atrás eu iniciava o "caminho" de Compostela.
Andei por 26 dias naquela que seria, a maior jornada de minha vida.
Profundamente solitário nesta tarde de sábado nostálgica, recordo-me com os olhos em lágrimas os insígnes momentos vividos naqueles dias.
Inspirado pela memória de tão sublime acontecimento, escrevi o que se segue.

No meio do Caminho desta trilha...
Um dia me vi sem rumo, sem ar e sem saída.
Dentre as imagens que me aturdiam, algumas pareciam cenas de um visionário filme.
Aquela visagem, que de tanto medo me aparecia, consumia minha alma sozinha.
Efeito daquele astro que confundia por inteiro.

Eu tinha o rosto queimado pelo sol...
Minhas vistas doíam a ponto de não mais enxergar sequer uma alma viva.
Caminhei assim por dias inteiros.
Eram três da tarde. A hora do sacrifício, a hora da dor e do desespero.
O véu do templo se rasgara em dois.

Eu chorava como um menino num monte  sozinho.
Carregava em minha aljava sonhos de um passado.
A terrível solidão naquele mundo imaginário.
Para mim tudo era límpido, solitário e angustiante.

As dunas e montanhas que havia de atravessar me causavam espanto.
Pensava em desistir. O cansaço me desgastara inteiramente por dentro.
Sentado no alto daquele monte, vi o meu fim e o início do novo mundo em seus raios fulminantes.
Sentia vibrar em meu corpo a força que me assaltava de imediato.
  

Aquele dia foi quase tão amargo como a morte.
Não me recordo bem ao certo como entrei naquele áspero e belo mundo.
Tomado de uma sonolência estranha,
quando as margens do rio que me iluminava, eu deixei.
Por quê fui tomar este caminho?
- Indaguei à minha alma inquieta.

Só sei que cheguei ao pé de uma montanha...
Lá onde aquele vale se extinguia
que me deixara em solidão tamanha,
e vi que o ombro do monte aparecia
vestido já dos raios do planeta
que a toda gente pela estrada guia.

Vi que aquela miragem era parte do drama dos que andam solitários pelo mundo.
Então a angústia se calou, secreta,
lá no lado do peito de onde saíra aquela noite que tomou minha alma, inquieta.
Lembrei-me de minha infância. Dos primeiros dias.
Eram cenas de um imaginário real, das raízes de minha Alma.

Com a dor daquela lembrança, eu me sentia como um náufrago depois que aspira.
Eu estava abraçado à areia,
De novo vivo, olhando o mar que longamente me incendia.

O meu ânimo ainda fugitivo...
voltou a contemplar aquele amplo espaço vazio
que nunca ultrapassou um homem vivo.
E eu olhava no espelho do céu aquele dia,
os rastros naquela areia que guiavam minha alma até onde chegaria.
E lá aportei, cumprindo sereno minha antiga sina.












 
Frei Eduardo F. Melo
Santa Teresa - ES
30 de outubro - 2010.

3 comentários:

  1. Frei querido!
    Lágrimas brotaram nos meus olhos ao ler este texto. Senti à distância, sua imensa solidão aos devaneios fugazes daqueles momentos.
    Sabemos que foi passageiro, e que experiência brilhante conquistastes em sua viagem.

    Conte sempre comigo, pro que der e vier!!.
    Beijo grande, saudade sem fim.

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  2. " A solidão é um campo muito extenso para ser percorrido a sós" Lia Luft. Então procure atravessá-lo sempre acompanhado... Beijão!!! Renata Pretti.

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  3. " Estimado Frei!!
    O texto é de uma itensidade tão grande que nos transporta para o mesmo caminho que percorrestes.
    É fantástico como lendo essas palavras me senti caminhando pela mesmo caminho e ao mesmo tempo que junto contigo, pode divisar a paisagem, me senti também vendo e vivendo a solidão da minha vida.
    Amadureci a reflexão de que a solidão é o combustível das almas,ela revigora o nosso desejo e amplia a nossa necessidade de vivermos sempre com o outro.

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