quarta-feira, 29 de setembro de 2010

INSIGHTS SOBRE LIBERDADE - PARTE 1


Recentemente fui convidado a falar sobre o tema das Virtudes.
Depois de algumas pesquisas em literatura relativa ao assunto, inicío este texto tomando duas citações de autores contemporãneos no que diz respeito ao Conceito de Liberdade. 

“Somos, pois criaturas nutridas de liberdade há muito tempo, com disposições de cantá-la, amá-la, combater e certamente morrer por ela”.
Luis F. Veríssimo.

Ser livre é ir mais além: é buscar outro espaço, outras dimensões, é ampliar a órbita da vida. É não estar acorrentado. É não viver obrigatoriamente entre quatro paredes”.
Cecília Meireles.

Pensamos, sentimos e fazemos escolhas como resultado de nossa vontade.
Na perspectiva da fé, recebemos a liberdade como resultado da opção soberana de Deus: Ele nos criou Livres para estabelecermos relacionamentos.

O Escritor Inglês C. S. Lewis fez uma pergunta intrigante em seu livro “Cristianismo Puro e Simples:
“Por que Deus concedeu ao homem o livre-arbítrio, sabendo de antemão, que isso lhe acarretaria em mal?”

C. S. Lewis  mesmo respondeu:
“Porque o livre arbítrio, apesar de tornar o mal possível, é também a única coisa que faz com que todo amor, bondade ou alegria valham a pena. Um mundo de autômatos, de criaturas que trabalhassem como máquinas, não valeria a pena ser criado.

"A felicidade que Deus destinou as suas criaturas superiores é a felicidade de serem livres e voluntariamente unidas com Ele e entre si mesmas, num êxtase de amor e prazer comparado com qual o amor mais arrebatador desse mundo, entre um homem e uma mulher, não passa de uma coisa insípida. Mas para que isso aconteça, as criaturas têm que ser livres”. (pg. 81).

O Novo Testamento faz três declarações absolutas sobre Deus.
Deus é espírito (João 4.24)
Deus é luz (1João 1.5)
Deus é amor (1João 4.8)

Essas três afirmações combinadas entre si, significam mais: Deus é santo.
Porém, cada uma reflete a maneira como ele se revela aos seres humanos.
Quando afirmamos que Deus é espírito, sabemos algo sobre seu ser essencial.
Quando dizemos que ele é luz, sabemos sobre a integridade de seu caráter.
Quando falamos que ele é amor, sabemos sobre o jeito como ele deseja relacionar-se com os seres humanos.

Se não podemos conter o conhecimento de Deus dentro de categorias racionais...
contudo, temos revelação espiritual suficiente para compreender como ele se relaciona com a humanidade.
E se ele quer estabelecer relacionamentos genuínos (nunca fictícios nem falsos), é necessário que as pessoas sejam livres para praticarem ações virtuosas, pois só assim podem entrar em uma verdadeira interação com a divindade.

"Virtude só será verdadeiramente nobre quando se constituir numa escolha livre, em contraposição ao mal, já dizia Aristóteles."

Na ética, o estudo das escolhas é fundamental na determinação do caráter e do bem...
pois as escolhas só podem ser consideradas virtuosas, quando do outro lado, há verdadeira opção.
Se não há verdadeira liberdade nas escolhas, ninguém poderia ser responsabilizado por seus atos – nem criticado ou elogiado.

Torna-se injulgável, qualquer pessoa que age impulsionada por uma força mais forte do que ela mesma.
Domínio de si requer tempo.
Quem está escravizado precisa de ajuda, nunca de condenação.
Sem consciência do que faz, sem um mínimo de controle sobre sua capacidade de responder afirmativa ou negativamente, não há mérito ou dolo.

Devido a esse conceito, um outro escritor, chamado Charles Finney disse o seguinte:
"Um ser moral é alguém que possui atividade moral: atributos de intelecto (incluindo razão, consciência e autoconsciência), sensibilidade (a faculdade de sentir toda sensação, desejo, emoção, paixão, dor ou prazer), e livre arbítrio (o poder de escolher ou recusar-se a escolher, em qualquer circunstância, com um obrigação moral).

O que tradicionalmente chamamos de livre-arbítrio é o poder de originar e fazer nossas próprias escolhas...
e de exercer nossa própria soberania, em todas as circunstâncias de escolha sobre questões morais – de escolher em conformidade com o dever, ou com a consciencia reta. 

Outro Teólogo e renomado crítico literário inglês, Winkie Pratney, discute o conceito de liberdade em seu excelente livro “Natureza e o Caráter de Deus”, onde afirma:

“Por sermos muito parecidos com Deus nessa capacidade de criar escolhas, a questão da liberdade e da moralidade se torna um estudo muito importante. Deus confiou a nós uma dádiva muito significativa: somos genuinamente capazes de afetar o universo, as pessoas e tudo ao nosso redor”.

Assim, a favela não foi intencionada e nem fazia parte das intenções criativas de Deus.
Toda miséria é um acidente, uma aberração.
A destruição ecológica não fora prevista no planejamento pré-histórico.
Armas de destruição em massa não cumprem um papel escatológico antecipado.
Tudo que é contra a vida, é desvio!

Assim podemos afirmar que ao conceder o mandato cultural de cuidar e regar o jardim...
Deus convocou a humanidade para que se unisse a Ele na construção da História.
Assim como no princípio Deus fora o “Deus creator”, mulheres e homens foram convidados a continuar criando como “homo faber”.  

Portanto, admitir que não há liberdade na vida é admitir uma história escrita e determinada sem participação humana.
Aceitar que a humanidade apenas colhe os efeitos do pecado original ou de uma outra vida passada, e que não pode responder à graça divina para ser cooperadora com Deus na construção do futuro, é sucumbir a um determinismo asfixiante.

Cada um tem o privilégio e a responsabilidade de ser artesão de um novo amanhã.
Não desperdicemos o tempo.
Ele é raro e tem um alto preço.

Frei Eduardo F. Melo
Santa Teresa - Es
29 de setembro - 2010.

Bibliografia:
"Cristianismo puro e simples" - C.S Lewis.
"Sobre a Natureza e o Carater de Deus" - Winkei Pratner

2 comentários:

  1. E por falar em tempo perdido:
    "Sempre em frente
    Não temos tempo a perder...
    Nosso suor sagrado
    É bem mais belo
    Que esse sangue amargo." ♪

    Pois que aproveitemos em liberdade todas as primaveras que nos restam! A propósito: paradoxo atualizado, RUM! =D

    ^^

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  2. Olá Frei, pensei tanta coisa lendo esse texto que penso que vou ter que ler mais vezes para assimilar tudo, pobre da minha ignorância... mas penso também que isso não seja consequência de outras vidas , mas de fatos ocorridos nesta mesma que nos deixam vulneráreis, paralizados diante de um medo invisível. Mas não perco a esperança de que podendo mudar,que meu crescimento seja em direção a esse Deus que deixa um brilho nos olhos ,seja sempre para melhor, Amém. Abração. Renata

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