Devaneios de um caminhante solitário.

Meu coração está acelerado.

Os últimos preparativos para a viagem, os detalhes da peregrinação, a mochila, todo o material e sua respectiva necessidade no Caminho têm causado em mim aquele famoso "friozinho na barriga".

Ontem estava meditando na varanda de minha casa.

No meio das bagunças de meu quarto, vendo filmes sobre o Caminho, tentando organizar a mochila e recebendo alguns recadinhos e ligaçoes pra matar a saudade dos amigos, ouvia o novo cd do Coldplay "Viva la Vida".

Agradeci a Deus por esta oportunidade que a vida está me dando.

Olhava pra mim mesmo e depois de tantos anos sonhando com este dia, ele se aproxima e devagarzinho vai consumindo minha alma e meu coração num misto de alegria, contentamento, ansiedade e emoção.

Sim eu sei, muitos me acham meio louco.

E vejo que em parte, eles têm razão!

Gosto disso. Também me vejo assim.
Acredito que todos temos dentro de nós a chama da santa loucura queimando como brasa. Talvez por isso, São Francisco conversava com os pássaros, Joao da Cruz com as árvores, Santo Antônio com os peixes, Madre Teresa com as plantas, os monges no deserto com os ventos.

"A questão é que cada um escolhe uma maneira certa e definida de mostrar e viver sua loucura."

Amo ser paradoxal, mas não  me considero inconstante.

Nem eu mesmo me entendo, certas vezes.

E nessa maravilhosa aventura de se desvandar, amo quem Deus permitiu que eu fosse.
Tem dias que rio de mim mesmo...
Acho engraçadas certas coisas que penso e falo.
Outras acho muito duras. Queria ser diferente, mais leve, mais amoroso.
Mas meus condicionamentos psicológicos e religiosos não mo permitem.

Se pudesse me definir em metáforas...
Sou o náufrago no meio do mar em cima daquela jangada.

Sou um visionário que ama coisas velhas...
Guardo meus anseios em baús empoeirados.
Ouço e amo meus discos em vitrolas velhas.
Admiro a nostalgia das tardes de domingo.
Consumo meus dias em literatura debaixo das árvores.
Desgasto e cedo minha alma àquele que me entregou de presente sua vida.
Adoro o pão que me alimenta e que se tranforma todos os dias em minhas mãos.
E com ele viajarei por espaços que precisam ser galgados por minh'alma.

É com esta esperança que lhe entrego, Senhor, meus dias e minhas horas.
Na certeza de que...

"O melhor ainda está por vir..."

Sábado, véspera da viagem.
15 de maio de 2010.
Frei Eduardo F. Melo.