“A Fé sem Obras é morta”
(Tiago 2, 14)
Recentemente fui criticado por conta dos meus posicionamentos relativos à moral cristã subjacentes ao contexto plural e complexo de nossa sociedade contemporânea.
Certa pessoa, num tom de ameaça, afirmou-me: cuidado!
Você está tocando em assuntos que ferem a vida e o comportamento de muitos católicos.
Sem medo, eu discursava sobre algumas tendências presentes na geração dos cristãos católicos atuais, e por conta disso fui aplaudido mas também questionado por muitos que me ouviram naquela noite.
Considero 5 as principais características pertinentes à Nova geração de Cristãos:
1o lugar- Vivemos uma geração de católicos descompromissados com a divulgação do Evangelho.
(Falta envolvimento com a missão da Igreja);2o lugar- Vemos um total despreparo de muitos católicos na apologia de sua Fé.
(Falta conhecimento, participação nos cursos teológicos oferecidos, etc.)
3o lugar- Presenciamos um forte relativismo ético diante das doutrinas e do pensamento moral da Igreja.
(Alguns católicos que participam da Eucaristia e que crêem estar em "comunhão" com a Igreja e com Cristo, defendem explicitamente o aborto, discrimina-se a castidade e incentiva-se a prática sexual sem nenhum compromisso ético através da disseminação do uso de preservativos).
4o lugar- Existe um desencantamento e um desconhecimento da Doutrina de Fé professada.
(Uma boa parte dos cristãos católicos satisfaz-se em professar o Credo na missa, porém, evita-se o conhecimento mais apurado da doutrina da Igreja para "evitar-se" mais compromisso).
5o lugar- Prolifera entre os cristãos católicos um profundo antagonismo entre Fé e Vida.
(Não temos cristãos suficientemente conscientes de sua vocação à santidade).
Por conta disso, posso afirmar:
"Uma Fé que não se traduz em obras é morta e objetivamente não conduz uma Vida. "
Por "valor" entendo aquilo que proporciona normas à conduta de uma pessoa.
Acredito que Fé deveria ser, para todo cristão, um bem e um valor capazes de orientar o nosso modo de agir, de casar, criar os filhos, de viver na sociedade, de comportar-se em todas as situações da vida.
O que cremos, seria assim uma norma de conduta advinda da Lei Moral interna a nós e presente em nossa consciência.
Norma de vida que provém de Deus e nele encontra a sua fonte.
Fé e Moral cristã seria o conjunto de preceitos que Deus promulgou a fim de que, cumprindo-os, nós conseguíssimos chegar à nossa meta e fim último: a vida sobrenatural da Graça.
Porém, o que vemos em nossa geração é que a FÈ não está se fazendo valor, e por isso, ela continua sendo compreeendida como uma uma espécie de sentimento intimista que nada transforma as consciências.
"Entendo por Consciência moral a faculdade de distinguir o bem do mal, de que resulta o sentimento do dever ou da interdição de se praticarem determinados atos, e a aprovação ou o remorso por havê-los praticado."
Concordamos que, nos dias atuais, várias são as correntes e ideologias que pregam uma "nova moral" (conjunto de regras e normas), isenta de obrigações ou compromissos ÉTICOS (comportamento racionalmente aceito).
A partir desse conflito, criam-se dois lados.
A partir desse conflito, criam-se dois lados.
De um lado a Palavra de Deus, fonte e guia para a moral Cristã - torna-se um livro mitológico e sem sentido para a maioria das pessoas.
(deixa de ser fonte e manancial para a transformação das consciências - talvez por isso, o descaso de muitos com a mesma).
De outro lado - o mundo, com suas permissivas liberalidades, atrai consequentemente muitos adeptos cujo fim último é sempre a satisfação pessoal de suas vontades.
"Vivemos uma geração onde cada um, conforme sua cabeça ou critérios particulares de julgamento, estabelece normas morais particulares que chamam de "opção de vida" e querem impor à sociedade tais normas como padrão de comportamento moralmente defensável."
A moral cristã supõe um esforço de reflexão e de criação sensata que leve em conta a dignidade da pessoa e o bem comum.
É prática, como experiência do cotidiano.
A FÉ como um valor tem que voltar a ser compreendida como estância que projeta luz sobre o nosso comportamento, caso contrário continuaremos vivendo uma fé de sentimentos, nunca de transformação das consciências morais e das condutas humanas...
A FÉ como um valor tem que voltar a ser compreendida como estância que projeta luz sobre o nosso comportamento, caso contrário continuaremos vivendo uma fé de sentimentos, nunca de transformação das consciências morais e das condutas humanas...
Fé precisa ser compreendida como parte do Plano da Divina Sabedoria que dirige as ações de todas as criaturas, em ordem ao bem comum de todo o universo, endereçada aos corações e as mentes.
Proponho que FÉ, mas que devoção e cultura, seja compreendida como adesão amorosa e comprometimento profundo com uma verdade.
Só uma Fé verdadeira torna-se capaz de libertar o ser humano da escravidão do materialismo e do egoísmo, fazendo-o redescobrir o sentido profundo de si mesmo e da criação.
Fé é um reconhecimento de que somos peregrinos nesta história.
De que somos seres em busca de um "BEM" que não se identifica com nenhuma das criaturas e muito menos com as obras de nossas mãos.
"Minha alma não repousa enquanto não descansa em Ti."
(Santo Agostinho)
Quando a FÉ não se faz VALOR, passa ser vivenciada na superficialidade.
Ela passa a ser uma cultura religiosa que se ancora na observância de ritos, mais do que uma força de conversão para a Vida.
Uma fé assim não permite ao fiel experimentar o AMOR por Deus, mas provoca nele um apego utilitário ao Deus que diz "crer".
Não se experimenta a participação eclesial militante, mas espera a mágica do milagre.
Numa Fé sem obras, não se experimenta a sede pelo Absoluto, mas a prisão do mito pelo medo das tragédias...
Deus passa a ser instrumentalizado, como um amuleto-medalhão que protege das intempéries da vida.
Não se entende cada dimensão da vida como uma oportunidade para o testemunho, mas apenas como acaso.
Não se cultiva uma vida na presença do Senhor, mas apenas um ritualismo barato.
Aprofunda-se assim, o divórcio entre FÉ e VIDA.
A primeira, anêmica, será incapaz de sustentar a pessoa contra as seduções de um mundo idólatra e consumista.
A segunda, sem os ditâmes e valores da Fé, corre o risco de se tornar vã, mesquinha e sem sentido.
Concluo esta reflexão, agradecendo a todo carinho que tenho recebido através de mensagens nestes últimos dias! Continuo amando a Bíblia, animado na missão, com o coração radiante de alegria pela graça do ministério e celebrando a Eucaristia com mais amor do que nunca!!
"Pois sei em quem coloquei a minha confiança, e tenho certeza de que Ele é capaz de guardar o meu depósito até o fim."
( II Timóteo 1, 12)
“Hoje, mais do que nunca, é preciso oferecer às novas gerações adequada formação moral. O senso moral e sobretudo sua aplicação aos problemas concretos reais não se adquirem por geração espontânea. Seria fatal para o futuro da sociedade a insensibilidade moral das novas gerações, ou pior, sua deformação".
(Manual de Moral. Paulus. pg. 184. 2003)
Frei Eduardo F. Melo
Santa Teresa - ES
11 de março de 2010.
Frei,
ResponderExcluirMuito bom seu texto.
A fé cristã é uma completa confiança em Cristo, pela qual se realiza a união com o Seu Espírito.
Abraços. A Paz!!!!!
Frei,
ResponderExcluirQuando li o 4o lugar- Existe um desencantamento e um desconhecimento da Doutrina de Fé professada. Penso na liberdade em Deus nos dá, hoje mesmo na escola da fé você comentou o assunto. Então o seu comentário da distribuição de preservativos não seria mais uma forma de prevenção a vida? Não sei, isso fica uma interrogação na minha cabeça, pois no meu trabalho eu preciso trabalhar essa idéia.
Porém se pensarmos da forma que está banalizado este assunto(o uso e distribuição de preservativos) na sociedade, exemplo: atitude do nosso presidente nas festividades do carnaval 2010, precisamos avançar muito no resgate de valores dentro da família que não são mais cultivados hoje.
ResponderExcluirMas de um modo geral sua reflexão mexe com muitas pessoas, e principalmente, como você mesmo diz, são pessoas da igreja não é que está fora. É preciso fazer a auto avaliação permanente.
Paz e bem!!
Continue escrevendo para o nosso crescimento espiritual.
Abraços!
____________________________
ResponderExcluirhahaa...assuntos para mais uma aulaaa..
valeu irmãoooo..
salamaleiko..
Frei Eduardo.
_______________________________
Oi Frei , acompanhando seu blog aprendi a te admirar muito como ser humano, mas também senti vontade de comentar sobre o assunto acima, no qual discordo da possição da igeja com relação a contraceptivos. Penso que a pessoa deva ter formação e orientação suficiente para poder escolher o seu caminho. Sou a favor da liberdade e não da libertinagem , mas através de orientação e não de coação. Abraço.
ResponderExcluirSempre falei nas reuniões de dirigentes de círculo que o mundo é que tem que voltar a ser igreja, e não a igreja se adaptar ao mundo (no sentido de fazer a vontade das pessoas). A igreja não pode mudar o que está na Bíblia porque o ser humano quer mais liberdade. Que liberdade? Penso que as pessoas não sabem o que significa liberdade. Nunca vou esquecer o que disse o reitor da PUC quando numa entrevista o perguntaram se a igreja não tinha medo de perder os fiéis por causa da não aceitação ao uso dos preservativos e ele brilhantemente respondeu: "- a função da igreja é anunciar".
ResponderExcluirOs cristãos estão esquecendo disso.
A igreja não escraviza ninguém, ao contrário, mostra, revela, faz cair por terra a escravidão que o mundo vem oferecendo.
Concordo com o senhor, Frei, que os cristãos desconhecem a doutrina da igreja, mesmo aqueles que estão nela.
Existem dois documentos brilhantes, "Gaudium et spes" e "Fides et ratio" que mostram o carinho, o amor, preocupação da igreja com o mundo.
Tenho certeza que se os cristãos lessem esses documentos, além da Bíblia,claro, saberiam se posicionar firmemente em relação ao que a igreja pede.
Um abraço
Ana Paula - Paróquia Santo Cristo dos Milagres - Niterói.
_____________________________
ResponderExcluirAna Paula...
Tua sensibilidade e amor pelqa Igreja é coisa mar linda!
Admiro seu testemunho coerente, sua singeleza no trabalho de evnagelização aí em nossa Igreja.
Tu sabes que tens o coração bondoso.
Isso é a jóia mais rara de tua vida.
Um beijo no coração.
Abraço. a paz.
Frei Eduardo F. melo
___________________________________