quarta-feira, 3 de março de 2010

As Quatro Doenças da Alma.




Dentre todos os autores da Filosofia grega, PLATÃO...
foi sem dúvida, ao lado de Sócrates e Aristóteles, um dos maiores pensadores que o mundo Ocidental já teve. Suas principais obras, A República e a Apologia de Sócrates, repercutem por séculos na história da Literatura universal.  

Em linhas gerais, Platão desenvolveu a noção de que o homem está em contato permanente com dois tipos de realidades:
O mundo inteligível - o primeiro é a realidade imutável, perfeita (mundo das idéias).
O mundo sensível - o segundo são todas as coisas que nos afetam os sentidos, são realidades dependentes, mutáveis e são imagens das realidades inteligíveis (mundo dos sentidos).

Tal concepção de Platão também é conhecida por Teoria das Idéias ou Teoria das Formas.
Revendo minhas anotações oriundas das aulas de Filosofia que tive no início da última década, decidi postar aqui um trabalho que fiz sobre alguns temas relacionados à ética de Platão e de Aristóteles em seu escrito chamado "As 4 doenças da alma."

Boa leitura.
Salamaleiko.
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AS 4 DOENÇAS DA ALMA


1º ROUND-
A primeira doença da Alma citada por Platão é a INSENSATEZ.
Segundo o dicionário Aurélio  a insensatez é o procedimento de quem não reflete antes de agir. É a atitude do estorvado: age com inatenção, de forma precipitada, emotiva e sem razão.

O Insensato age sem refletir, ou quando reflete, o faz sem compromisso com a realidade dos fatos.
Não pára a fim de pensar, discernir e optar.
A insensatez consiste em não buscar conhecer a razão das coisas e viver de modo superficial, instintivo, efêmero.
O insensato está sempre observando os outros porque precisa deles para regular seus comportamentos.
Como disse o grande mestre Cícero:

"É próprio do insensato apontar os defeitos dos outros e esquecer-se dos seus."

Ao insensato falta a lógica, a profundidade, a reflexão no raciocínio, o senso crítico.
Não há gosto pelo estudo, pelo cultivo pessoal, pela sabedoria.
Não que essas coisas sejam mais importantes que tantas outras.
Não quero e nem posso reduzir felicidade à conhecimento intelectual, acreditando que o Caráter de uma pessoa seja determinado pelos seus conteúdos adquiridos.
Conhecimentos são meios, nunca fins. 
A imaturidade, a ingenuidade e a superficialidade são expressões da insensatez.

Por isso, afirmou o Filósofo Sêneca:

"A vida do insensato é ingrata, é agitada, está toda voltada para um mundo só seu".

A vida não pode se fundamentar na dúvida, na incerteza, na mentira, na satisfação efêmera dos desejos.
É por isso que o insensato cai facilmente na arbitrariedade, na sensualidade, no consumismo, na lógica da moda e das opiniões.

Falta-lhe o amor à verdade.
A insensatez aceita como verdadeiro o que é agradável, ao que dá sucesso e causa sensação.
O máximo da insensatez é a ocultação da realidade em prol da vontade pessoal.
Em nossa sociedade, a idolatria, o mercado, o vazio existencial, o stress são doenças da alma enraizadas na insensatez.

Certamente, por isso, tenha afirmado Hesíodo: 

"É insensato quem, perseguindo o que está longe, abandona o que já está ao seu alcance."

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2º ROUND-
A segunda doença da Alma humana comentada por Platão é a INTEMPERANÇA.
Ela é resultado da falta de autodomínio, da satisfação dos desejos, do permissivismo ético.
Sem a temperança somos escravos dos vícios e das nossas paixões, buscamos alívio no barulho, na farra e no álcool, como sedativos para as doenças de nossa alma.
Assim, a intimidade vira sensualidade, e depois, promiscuidade.

Hoje é um imperativo, uma obrigação o sexo livre, o consumo descontrolado de álcool, a libertinagem e o descompromisso moral. Vivemos um tempo de exasperação erótica do corpo e uma desumanização da sexualidade.

A virtude da temperança consiste em ordenar os afetos e as vontades humanas desordenadas...
Ela assegura o domínio da vontade sobre os instintos e proporciona o equilíbrio no uso das coisas e na administração da vida.
Consiste em controlar os impulsos instintivos, humanizar a sexualidade, para alcançar a maturidade e a paz interior.

Por isso afirmou o téologo da Igreja Santo Agostinho:

"Amamos indevidamente o que Deus nos dá, quando, por causa disso, nos esquecemos de Deus."

Uma das caracteristicas de nossa sociedade hodierna é a total falta de parâmetros éticos na esfera dos sentidos individuais.

"A primeira vítima da falta de temperança é a própria liberdade. "
(Sêneca)
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3º ROUND-
A terceira doença da alma citada por Platão é a INJUSTIÇA.
Consiste em não agir corretamente, mas de modo egoísta, oportunista, excludente e opressor. O outro é descartável, sobrante, excluído.
Falta a consideração e satisfação pelo bem estar dos outros, pelo seu sucesso e seus direitos.
O injusto desconhece a compaixão, a sensibilidade, o altruísmo.
O outro é apenas um meio para seus interesses ou uma ameaça a descartar.
O pior mal que a injustiça pode provocar no coração do homem é o desprezo pela virtude.

Assim afirmou o Escritor Rui Barbosa:

"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto."

As desigualdades sociais, a corrupção, a depredação do meio ambiente e o uso das pessoas em prol duma vantagem própria são patologias cuja origem é a doença da alma chamada injustiça.

Sobre o tema da Injustiça, assim afirmou Georges Bernamos:

"O espectáculo da injustiça acabrunha-me, mas isso se deve provavelmente ao fato de ela despertar em mim a consciência dos atos de injustiça de que sou capaz".
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4º ROUND- 
A quarta doença da Alma comentada por Platão é a IMPIEDADE. 
Ele considera a impiedade uma falta de consideração apropriada, ou, pelas obrigações devidas para com as pessoas ou para com as condutas religiosas públicas a serem observadas.
O Ímpio é a pessoa que nega o divino, o transcendente que há além de si nas outras pessoas e em Deus.

Para o ímpio, a religião e as coisas espirituais não passam de obsessão neurótica, atraso cultural, obscuratismo e magia.
A impiedade se manifesta na incredulidade, na indiferença, no desinteresse pela dimensão espiritual. Deus além de ser etorvo, é inútil. Seu lugar é o exílio.

Para o ímpio, a religião enfraquece o homem, e por isso ele rejeita Deus e adora ídolos.
Combate a religião e endeusa a razão.
Tem o pensamento obscurecido porque o amor de si o leva ao desprezo de Deus.

Como afirmou Humberto Eco em seu livro "Em que creem os que não crêem":

"Os que não crêem em Deus, crêem em ídolos. Os que não tem ídolos crêem em superstiçoes. Os que não crêem em superstiçoes,  fazem de si mesmos seu próprio deus".

A impiedade se radicaliza no desrespeito à liberdade religiosa, em nome de um "pseudo  desenvolvimento humano.

“O humanismo que exclui Deus é um humanismo desumano.”
(Papa Bento XVI)

Assim como seu oposto, a alienação, a impiedade aprisiona a verdade, petrifica o coração, inverte valores. Eis o que é a doença da alma chamada impiedade.


Salamaleiko.
Frei Eduardo F. melo
Santa Teresa
3 de março de 2010.

Um comentário:

  1. Frei Eduardo, não temos todos nós um pouco das quatro doenças da alma? Penso que eu pelo menos as tenho. Dificil as vezes controlar os instintos, mas penso que isso também nos difere dos animais. O mundo difícil!!!!!!!!!! abraço!

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