segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Pensamentos implícitos sobre Oração. (PARTE 1)



Passo por uma fase em que meus valores vem mudando muito.
Meus questionamentos teológicos passam por algumas transformações.
Deixei de acreditar em certas verdades no campo da fé que antes para mim eram "irretocáveis".
Chamo esta fase de minha caminhada existencial de "ajeitamento em maturidade".
Creio estar em bom caminho.

Dentre os valores que passam por transformaçoes em minha forma de pensar teológicamente está o CONCEITO de ORAÇÃO.

Aceito que a literatura cristã sobre o tema da Oração tem sido vasta em nossa época.
Mestres do Cristianismo no mundo atual, os autores americanos evangélicos têm lotado as prateleiras das livrarias espalhadas pelo mundo.

Falar sobre oração requer mais afeto e sentimento, creio, que razão.
Confiamos numa verdade mais com o coração que com o cérebro.
Não existem teorias ou fórmulas prontas para convencer uma pessoa sobre a importância da Oração.

Entendo que a religião não sobrevive de verdades, mas de redes de sentido.

Quando doutrina e vida colidem, advinha quem perde?
- Eu respondo: a doutrina.
Afirmações categóricas da religião são esticadas, moldadas e adaptadas diante de contingências existenciais.
Tragédias exigem que as doutrinas sejam resignificadas para que se encontre uma explicação que poupe da loucura.
Nos momentos críticos, todas as pessoas se sentem livres para serem paradoxais, ambíguas e inconsistentes.

A algum tempo estava pra dedicar algumas linhas sobre o tema, e achei no meio das minhas bagunças literárias dois textos escritos a mão sobre o assunto.
Aqui vai o primeiro. Espero que aleitura do mesmo seja interessante ao leitor.
Salamaleiko.


Deslinhando alguns questionamentos sobre a Oração.

Um primeiro insight sobre o tema da oração parte do princípio de sua própria necessidade.
Por que orar?
Ou ainda: qual seria a necessidade da oração, se sabemos que Deus, antes mesmo de  pedirmos, conhece todos os nossos desejos e necessidades?
Porque oramos e nem sempre somos atendidos?
Será que Deus escolhe os pedidos que serão autenticados e despachados e ao mesmo tempo exclui os que desagradam a sua majestade?
O que é mesmo Orar?
Iniciarei esta primeira parte do texto partindo da última questão.

O que é mesmo Oração?

Em primeiro lugar, creio que...

ORAÇÃO é entrar em comunhão com um Deus amoroso e Bom e assim aceitar seu carinho pela humanidade (independente da quantidade de fatores adversos àprova de sua existência).
ORAR é saber-se alvo dos cuidados de Deus.
ORAR é perceber o afeto divino mesmo quando não somos merecedores.
ORAR é valorizar o tempo, é abstrair o universal, é entrar em sintonia com a instância pessoal responsável pela organização do mundo.

ORAR é atualizar em palavras nossa amizade com Deus.
ORAR é desfrutar da alegria de tê-lo como amigo.
ORAR é bater a porta de um companheiro. É pedir a um irmão, é falar com um pai.
ORAR é andar no escuro, sabendo que há alguém que zela no silêncio das estrelas por nós.
ORAR é conseguir olhar o mundo com as lentes da fé. É buscar diante do pessimismo fatalista da vida manter o realismo esperançoso. 


ORAR é entregar as rédeas da vida àquele que é o Senhor da história.
ORAR é confiar no impossível, é acreditar no imaginável mesmo que digam ser isso ilusão.
ORAR é reconhecer-se necessitado de ajuda. É estender a mão esperando co-responsavelmente no que de bom, Deus possa mandar (mesmo que isso implique sacrificio de quem o pede).

Quando oramos estamos revelando que acreditamos numa pessoa infinitamente superior a nós.
Mas se Deus, sendo infinitamente superior a nós e sendo conhecedor das nossas maiores necessidades, revela-se como onipotente, porque então, acontecem tantas coisas aparentemente contrárias à sua vontade?

Ou, em outra perspectiva, porque orar se de antemão sabemos que Deus só concede aquilo que é da sua vontade e não o que pede a nossa?

Respondo em teses:

Em primeiro lugar, que ORAÇÃO não é solução imediata de problemas.
Parafraseando a filósofa judia Edith Stein:

"O amor a Deus é verdadeiro quando alegria e sofrimento inspiram uma igual gratidão".

Portanto, o que define uma relação de amor entre duas pessoas é a gratuidade, nunca o princípio de barganha. Assim, o amor a Deus é verdadeiro não por aquilo que Deus pode fazer por mim, mas por aquilo que Ele É para mim".


A ORAÇÃO, para ser verdadeira, nunca parte do princípio de que eu preciso me comparar aos outros para ser atendido.
A ORAÇÃO, para ser verdadeira parte sempre da humildade do coração de quem pede, e nunca da idéia de um Deus que atenderá necessária e egoísticamente meus pedidos.
A ORAÇÃO é consequência de uma vida vivida debaixo da graça de Deus.
A ORAÇÃO é combate espiritual contra as forças malígnas que agem no mundo e também dentro de nós.
A ORAÇÃO é um exercício contínuo de aperfeiçoamento em humanidade.
A ORAÇÃO é a engrenagem que articula solidariedade em vidas.
A ORAÇÃO é motor que agiliza o movimento da alma que crê para além de todos os percalsos da história.
É acreditar no impossível.
Por isso que a Fé só sobrevive as custas das esperança.

Como disse Martin Luther King:

"Animada pelo impossível, a Esperança desenvolve sensibilidades nas pessoas.
A Esperança é a irmã mais frágil da fé. 
Ela não nasce das certezas, mas é vizinha da teimosia. "

E nisto reside sua beleza.
Essa é a questão.

Frei Eduardo F. Melo
Santa Teresa -
8 de ferereiro - 2010.

(Continua nos próximos dias...)

2 comentários:

  1. ...orar é expressão de proximidade com Deus, é nos expor no mais íntimo do nosso coração com humildade.É rasgar a alma e coração colocando nossos pedidos e agradecimentos Àquele que nos ama incondicionalmente...

    Estou anciosa prá ver a 2ª parte.
    Paz e Bem!!!
    Saudades do Frei... hehehehe

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  2. Aguardando pelos próximos dias...
    Adoro seu blog!

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