quarta-feira, 7 de outubro de 2009

NEUROSES, PARADOXOS LITERÁRIOS E PSIQUIATRIA.


"... A loucura, objeto de meus estudos, era até agora uma ilha Perdida no oceano da razão. Começo a suspeitar que seja, de fato, um continente".

Machado de Assis "O Alienista"

Tenho lido semanalmente os artigos da revista Psique Ciência e Vida. Confesso com alegria no coração o quanto a leitura desses textos têm-me ajudado a crescer em solidariedade para com os pacientes psiquiátricos.

A cinco anos atrás decidi investir meu tempo vago na pesquisa sobre os transtornos da Psiquiatria Clínica. Cada página que leio, cada artigo que devoro, cada site que visito tem auxiliado o meu vago conhecimento a respeito da mente humana. O melhor deles, com absoluta certeza, cito e recomendo aqui:


Dentre os transtornos registrados não Manual das Doenças Mentais, o que mais me inquieta e chama atenção é a ESQUIZOFRENIA, Aliada ao Transtorno Delirante de Perseguição.

A esquizofrenia é uma doença cerebral crónica, grave e debilitante.


Os Doentes esquizofrénicos sofrem, freqüentemente, de sintomas assustadores e bizarros - ouvem vozes não ouvidas pelos outros; Acham que outras pessoas têm o poder de leitura da sua própria mente e que controlam os seus pensamentos e tem a força de os prejudicar. 
Tais sintomas podem deixar o paciente assustado e retraído.



Na esquizofrenia o discurso e o comportamento do paciente pode ser de tal maneira confusos que se tornam incompreensíveis e ameaçadores para os outros. A doença causa um tal sofrimento que uma sensação de estar sendo perseguido pode tornar o paciente agressivo e desconfiado de todos, da vida real e do mundo.

Milhares vivem de pessoas neste mundo com algemas invisíveis. Sem delito que os condenem, não conseguem enfrentar inimigos imaginários. Tornaram-se prisioneiros de seus próprios corações.


(Recomendo com insistencia aqui o filme "Uma Mente Brilhante". Ele retrata a história de um famoso matemático americano que sofre de esquizofrenia e sente-se perseguido por inimigos imaginários).

Paralelamente à minha curiosidade sobre a esquizofrenia, decidi pesquisar sobre uma data de surgimento do primeiro hospital especializado no tratamento psiquiátrico no Brasil.

Para início de conversa, em 18 de julho de 1841, foi assinado o decreto de fundação do primeiro hospício brasileiro, denominado Hospício Pedro II, em homenagem ao príncipe regente que nesse mesmo dia foi sagrado e coroado como Imperador do Brasil.

Em 1852, na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, em uma chácara afastada do centro da cidade, foram Inaugurados o hospício ea magnífica estátua em mármore de Carrara do Imperador. Um aparato cerimonial marcou uma solenidade, que se Transformou em importante acontecimento nenhum cenário social e político da época. O edificio ficou conhecido mundialmente como "Palácio dos Loucos".


"... A Amplidão dos espaços, a disciplina, o rigor moral, passeios supervisionados, uma separação por classes sociais e diagnósticos, e a constante vigilância do alienado, materializada arquitetonicamente como um panóptico (torre em forma de anel com um vigia), representam o nascedouro da psiquiatria no Brasil. "


Lembro-me que certa vez fui visitar o Hospital Philipe Pinel em Botafogo, no Rio de Janeiro. Eram mais ou menos 25 pacientes internados naquele dia recebendo apoio clínico e psicológico. Ao entrar no corredor que dava para uma sala do Médico de plantão, fui abordado por um homem que chegou gritando:

- Você também é louco? Já começou a tomar "o remédio"?

Imediatamente respondi que não, que estava ali apenas para uma visita e que acreditava no poder curativo do tratamento. Lembrei-me da frase do famoso Psiquiatra Esquirol (1940):

"No hospício o que cura é o próprio hospício. Por sua estrutura e funcionamento, ele DEVE ser um operador de transformações dos indivíduos. "



No ano de 1996 ingressei Naqueles famosos cursos de férias da Faculdade Estácio de Sá no Rio de Janeiro. Versava sobre a disciplina Psicologia Jurídica. A aula seria ministrada aquele dia pela Ivone Bezerra de Melo. Sua proposta era que fossemos visitar o Hospital Clínico da Colônia Juliano Moreira em Jacarepaguá. Lá, o mundo que vimos mostrava tristeza e solidão, morbidez e loucura, abandono e em angustia olhares estarrecidos, palco de uma realidade nunca antes contemplada por mim.


MALTRAPILHOS Doentes, feridas na pele, pacientes pelados jogados nos cantos, corações e almas desoladas viviam um mundo deles só que era. Aquele hospital tinha sido palco de uma das transformações mais importantes na clinica psiquiátrica do país. 

Por muito tempo, a Colônia Juliano Moreira foi referência nacional em Atenção à Saúde Mental. Dos anos 20 aos 80, funcionava como destino final para pacientes Considerados irrecuperáveis. Na década de 60 chegou a abrigar cerca de 5,000 pessoas.

No início dos anos 80, após longo processo de deterioração, a Instituição iniciou uma transformação do seu modelo assistencial, em consonância com a Reforma Psiquiátrica que vinha acontecendo diversos PAISES EM. Foram abolidos o eletro-choque, como lobotomias eo abuso de neurolépticos.

Novas internações de longa permanência deixaram de ser aceitas e assistência a novos pacientes em crise passou um ser feita pelo Hospital Jurandyr Manfredini, especialmente criado para este fim. Ali tinha Sido uma morada do Velho Artur Bispo do Rosário, o famoso artista plástico do Rio de Janeiro. Ele deu idéia à fundação de uma das mais fantásticas obras humanas, o Museu de Arte do Inconsciente Moderno.


No estudo da esquizofrenia aprendi que portadores da doença vivem dentro de cercas construídas por seres mas fortes do que eles. Sem saber, aceitaram o grito imaginário de um general que nunca nasceu, sentiram o o pavor com o rugir de leões empalhados. Temem o veneno de cobras mortas.


"É como se o Esquizofrênico, tivesse em sua mente uma transmissão em todos os 125 canais de uma TV por assinatura passando na tela simultaneamente, sem o controle remoto na mão"


Para eles, é como se um estado de espírito negativo fosse uma realidade cruel que mais uma que legitima a própria idéia do Fracasso. Um pessimismo mental determina a priori, que o futuro permanecerá nebuloso. Eles só pensam na inevitabilidade do impossível, na Improbabilidade de realizar o que é difícil e na inviabilidade de seus sonhos.


"... Assim é a vida para eles. Não há saída para um mundo onde uma pessoa se sente tão deslocada, tão sem rumo e sem vontade de viver. Assim Vivem Alguns. Doentes Mesmo sem estarem, conheço muitas pessoas que já perderam o Elã pela Vida ".

Se queremos encarar a vida como ela é, não nos podemos esconder. Diz uma teoria psicanalítica, que na raiz do medo não descansa em si o temor do outro. O maior medo não é aquele que temos de nosso inimigo, mas o "medo de nós mesmos" quando estamos diante deles, porque eles só eles têm o poder de tirar o nosso chão e nos fazer desacreditar na gratuidade da vida e do tempo.

Coragem é não Aquietar-se.
Fortaleza é encarar e aceitar a vida como ela é!



Agora estou convencido de que o mundo pertence Aqueles que aceitam arriscar sua própria vida para atingirem os seus ideais. Esses formam uma grande comunidade da qual o mundo não é digno. (Hb 11, 38).

Salamaleiko.
Frei Eduardo F. Melo
7 de outubro de 2009.

Um comentário:

  1. Olá Frei!
    Como é comum, conheço o senhor, mas o senhor não deve me conhecer..rs
    Sou psicóloga e gostaria de recomendar-lhe a leitura, caso ainda não tenha feito, das obras de Michael Foucault sobre a loucura:
    Doença Mental e Psicologia, (1954);
    História da loucura na idade clássica, (1961);
    Nascimento da clínica, (1963);
    Microfísica do poder (1979)- tem um capítulo mais específico sobre dispositivo de poder nos hospitais psiquiátricos.
    Também recomendo a leitura de "A psicogênese das doenças mentais" (Carl Gustav Jung)
    Um grande abraço,
    Allyne
    (allynesereno@yahoo.com.br)

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