quarta-feira, 30 de setembro de 2009

BIBLIA, SKATE E DISCIPLINA LITERÁRIA.

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TEORIAS DE UMA RELATIVIDADE SIMBÓLICA:

São Jerônimo, Bob Burnquist e Raymond Brow.

Escritos Aprócrifos, distrações hermenêuticas em fim de tarde,
metáforas em dias de chuva e esportes radicais.

 

"Foi a procura pela verdade que me ensinou a beleza dos compromissos"

Amo o Skate.
Amo a Bíblia.
Amo a disciplina dos escritores da minha geração literária.

A partir desses 3 temas, decidi escolher três pessoas que são um marco referencial em minha abordagem hoje.Três realidades distintas, complexas e extremamente difusas entre si na sua expressão, na sua espécie e na repercussão de suas obras, que, a meu ver, possuem uma semelhante relatividade simbólica.

Qual a relação que se poderia estabelecer entre o famoso Tradutor Sacro São Jerônimo, o renomado Skatista brasileiro Bob Bunrquist, e ainda o Célebre escritor e biblista americano Raymond Brown?

Coisa Fácil. Antes de mais nada, preciso explicar o “porquê dessa minha admiração” pelos três personagens citados, caso contrário, ficará difícil para o leitor amigo entender o motivo que me fez encontrar neles inspiração para esta história.


POSIÇÃO DE HONRA: SÃO JERÔNIMO - 42 ANOS TRADUZINDO A BÍBLIA.

Cito São Jerônimo porque amo a Bíblia, e sei que seu arcabouço teológico só chegou até a nossa geração porque um homem estranho foi capaz de dedicar sua vida inteira na tradução dos Escritos Sagrados.

Celebramos hoje (dia 30/9) em toda a Igreja, o dia daquele que foi considerado na História, ao lado de Agostinho, o maior ícone da literatura clássica cristã. Nem tanto pela sua vasta obra literária, mas pelo incansável trabalho que teve para traduzir dos originais grego e hebraico a Sagrada Escritura para o Latim. A tarefa durou 42 anos.

Imagine a extensão de sua obra (colocar em paralelo de três colunas todas as páginas das Escrituras - em três línguas diversas - latim, grego e hebraico), sem contar as dificuldades com a arte da escrita, a limitação dos meios necessários (falta de luz elétrica, tinta, pena, mesa, papiros enormes), onde cada sílaba custava em torno de 1 minuto para ser redigida ou desenhada...

Jerônimo representa aquilo que o autor da carta aos Hebreus quis exemplificar:

"Pessoas dentre as quais o mundo não era digno" (Hb 11).


SEGUNDO ROUND - BOB BURNQUIST: UM SKATE HUMANO!

Olhando para a conquista do Bob último domingo pela manhã em São Paulo, lembro-me com saudade dos tempos em que estava aprendendo a andar de Skate. Saudades da galera alternativa do Mutuá. Das tardes no centro de Niterói, do ambiente underground na casa de shows S8. Ah se eu pudesse voltar no tempo!!!

Com a vitória do Bob no último fim de semana pudemos vislumbrar um representante de nossa geração que agora reina absoluto num espaço que antes era domínio dos americanos. Do It Yourself ! FAÇA VOCE MESMO.

Viva nossa Raça!! Bob é um dos primeiros skatistas que ousaram desafiar os 105 metros de extensão e os 27 metros de altura da MEGA-RAMPA que a Oi montou no sambódromo de São Paulo. Com seu destemor anárquico, Bob mostrou mais uma vez sua coragem e seu sonho de voar mais alto.

Ele, assim como Jerônimo, ensinam duas verdades que considero hoje essenciais em minha vida:

“Que o segredo da Felicidade é doar a vida por uma causa."

“E que o amor por uma coisa sempre forja especialistas, sempre cria excelência. As pessoas tornam-se corajosas devido ao afeto. Encaram tempestades, sobem montanhas, enfrentam os ventos, só por causa do amor."


FIM DE LINHA - Raymond Brown – UM MESTRE E SUA BÍBLIA.

Brown foi nomeado como Representante máximo da Pontifícia Comissão Bíblica do Vaticano (1972-1996). Foi o distinto professor de Estudos Bíblicos da maior Universidade Protestante de Nova York onde lecionou de 1971-1990. Foi presidente da Confederação Bíblica Católica, da Society of Biblical Literature e da Sociedade de Estudos no Novo Testamento (1976-97).



Sacerdote na diocese de Baltimor Nos Eua, foi considerado como um dos mais proeminentes estudiosos da Bíblia no mundo, sendo premiado com 24 teses de doutorado, lecionando em diversas universidades no E.U.A. e na Europa. Veio a falecer no ano de 1998 e seu legado se estende sobre uma vasta história de amor e paixão pela Sacra Escritura.


Por causa do amor deste homem pela Biblia, tive a “graça sem preço” de visitar pela única vez possível no país a exposição PERGAMINHOS DO MAR MORTO.

O projeto trouxe ao Brasil uma exposição de artefatos arqueológicos encontrados por beduínos nas cavernas de Qumran, em Israel, em 1947. A principal atração da exposição foram fragmentos originais da Bíblia que datam de 650 a.C, a Bíblia mais antiga do mundo, com textos do Antigo Testamento.



Recordo com uma felicidade extrema, o dia em que, dentro daquele museu no Rio, tive a chance de ver em minha frente grande parte do texto original do livro do profeta Isaías.

Silencioso, atônito e cheio de reverência,  estive a frente com aquilo que para mim era a plena revelação da vontade do Eterno de minh’alma. Não era só o papel. O que me encantava era a capacidade que aquele texto tinha de expandir-se para além do tempo, da história, do vidro que o enquadrava e da minha turva visão. "

A presença daquele artefato historiográfico em minha frente era quase como um cataclisma circunstancial intra-histórico e atemporal.

“Paramnésia” era pouco para definir aquele dia. Mas isto só foi possível, porque pessoas como Raymund Brown, Frank Cruseman, Erick Zenger e tantos outros biblistas, dedicaram suas vidas inteiras na insandecida tarefa de nos aproximar do que há de mais belo nas Escrituras Sagradas.



Assim sinto-me próximo do legado conquistado por Jerônimo porque ele acreditou, e não temeu passar o resto de seus dias debruçado sobre a Biblia. Mesmo que a morte o levasse antes de terminar sua empreitada.

Admiro o Bob Burnquist porque só ele até hoje enfrentou e venceu o medo e ao mesmo tempo o amor que tenho pelas alturas.
Amo o desafio da próxima estrada...

Admiro a coragem dos que saltam de para-pente...
A altivez dos loucos que pulam de asa delta...
A sagacidade dos skatistas que se lascam no chão em tombos espetaculares...
A poesia dos surfistas que dançam sobre o mar e vêem o mundo “de dentro das ondas”...

A paz no olhar dos andarilhos que percorrem kilômetros de estradas por esse Brasil afora com seus chinelos cortados...
A paciência dos escritores que varam noites de sono enfurnados na tarefa de pesquisar e decifrar o "detalhe" que ainda não foi achado...
A incansável solidez dos biblistas que deitam suas vidas sobre as Escrituras por anos inteiros....
A timidez dos poetas que andam a pensar pelas ruas vazias das cidades no domingo á tarde, parecendo crianças a soletrar versos soltos.

Por isso, e só por isso hoje: insisto em não desistir.
Não sei explicar a força que me assalta.
Sem noção, retomo à minha sina, minha vocação e ao meu pensar.
A convicção de simplesmente resistir é meu vício.
Ressinto o preço de aceitar ser parceiro do padecer humano, mas não resisto ao aceno celeste. Ele me comunica sempre palavras eternas.

O Agora e o infinito. É isso o que interessa. Na chuva que cai sobre a janela de meu quarto
Meu olhar se aquieta.
Salamaleiko.
30 de setembro- 2009
Frei Eduardo F. Melo.

Um comentário:

  1. Obrigado frei!
    Suas palavras me ajudaram num momento crucial. Ao ler sua ultima postagem onde você falava de pessoas que davam a vida por uma causa renovei minha motivação o que me fez colher bons frutos.
    Quanto ao blog achei muito legal, porém, se puder aumentar um pouco o tamanho da letra acho que ficaria melhor.

    Aleiko salam!

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