sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Ùltimas notícias - Tragédia em Teresópolis (14/1/2011)


Morte e vida na Fronteira do desespero.
Acabo de voltar do "campo de concentração" onde se encontram os refugiados das chuvas aqui na região serrana do estado do Rio de Janeiro.
O "Pedrão", grande quadra de esportes localizada no centro de Teresópolis, tornou-se o lugar de acolhida da imensa maioria dos moradores atingidos pela pior tragédia natural registrada no país em toda a história.

O cenário é de dor, caos, medo e angústia.
Não há ser humano que consiga ficar passivo diante de tanta dor e sofrimento vinculadas pela pelas imagens da tv.
No conforto de nossas casas, assistimos agora cedo uma família que acaba de achar no meio dos escombros um bebê já sem vida. Gritos, choro e agonia se tornaram a trilha sonora desse espaço que me lembra a imagem da tragédia no Haiti.

Para nossa tristeza, a chuva volta a cair na cidade agora cedo.
Estive conversando com algumas pessoas agora pela manhã na "quadra".
A sensação é de uma tremenda "impotência " diante da dor.
As narrativas da tragédia se somam a olhares sem esperança e angústia, somados ao sentimento de vazio existencial que toma conta do coração das pessoas.
"Perdi tudo". A frase que mais ouvimos.

O que fazer?
Como ajudar?
Porque tanta dor?
Quem não chorou?

A notícia que corre é que há corpos pendurados nas árvores.
Gente que não sabe nem mesmo o paradeiro de seus familiares.
Pessoas foram arrastadas para longe de seus ambientes naturais.
Animais mortos aceleram o cheiro de degradação nos bairros.
Carros quebrados e em cima de casas torna o cenário fatídico.
A cena que mais me chocou agora cedo foi ver cinco caminhões de frigorifico, desses que transportam carnes congeladas, servindo de local de guarda para os corpos que lotam o IML da cidade.

"Nunca imaginei ver a cena de uma mãe tendo que subir na porta traseira de um "caminhão-frigorífico" pra reconhecer o corpo de seu filho, no meio de um montouro de corpos..."

Existem muitas pessoas debaixo de pedras e escombros ainda.
Parentes distantes chegam à cidade na expectativa de encontrarem seus ente-queridos.
Covas são abertas em campos de futebol.
Pessoas de barco querem chegar o mais perto possivel das suas casas na esperañça de resgatar algum documento perdido.

Já chorei umas três vezes hoje.
Amigos me ligam mandando mensagens na expecativa de ouvir uma boa notícia.
Estou bem! agradeço a preocupação dos irmãos que se uniram a nós nesta corrente solidária pela causa dos mais entristecidos.

A cada imagem da tv o que nos resta é o choro e a tristeza.
Assistimos consternados uma catástrofe que foge a qualquer lógica humana.
A notícia que me chega agora é que ainda existem mais de mil pessoas perdidas e sem qualquer localização no meio de alguns bairros totalmente isolados.

"Escrevo na ilusão de que meu grito exploda o coração que não está se aguentando dentro de mim. Tento, nas poucas palavras pensadas, externar o que a tristeza não consegue conter."

O sentimento que perpassa o ambiente dessas pessoas é estranho. O meu também.

Como será o futuro?
A expecactiva é de que esta multidão sem esperança ainda permaneça refugiada nos "campos de concentração" por pelo menos um mês ainda.
Sem poder voltar pra casa, sem ter noticias de familiares mortos, a sensação que há é a de que estamos no meio de uma guerra. 
Agora entendo a frase da música e a dor que ela narra: vejo pesoas "sem lenço e sem documento."

"O único alento que temos é ver no semblante e nas mãos dos que ajudam a solidariedade que extrapola barreiras religiosas e o egoísmo humano que não permite ficarmos quietos diante de tanta dor e sofrimento."

Uma nuvem escura e sombria obscurece a beleza desta cidade.
Um clima de incerteza e ansiedade volta a pairar no rosto sofrido dessa gente.
Eu termino por aqui. não dá mais pra escrever.
Prefiro olhar pela tela da tv e tentar entender a dor de quem precisa de nossa ajuda.
As equipes se revezam em ajuda solidária.
Lanches e remédios são servidos no IML e na frente da quadra da cidade.

Hoje não sei se posso afirmar que "o melhor ainda está por vir..."
Escrevo isso com lágrimas.
Meu coração não está sentindo esperança. só dor e tristeza.
E é só.

Salamaleiko.
Frei Eduardo F. Melo
Teresópolis - Rio de Janeiro
14 de janeiro de 2011.

7 comentários:

  1. Querido Frei Eduardo, ficamos consternados com o sofrimento de tantas pessoas,tive a mesma sensação de desespero quando vi o caminhão frigorífico chegando pela tv. As vezes evito ver o noticiário .Desejo a vcs todos muita força e muita fé. Abraço.

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  2. Amigo querido,

    Estamos tambem sentindo essa dor, tristeza, angústia. Estamos em oração por todos aí, na certeza de que Deus está presente em cada coração daqueles que são solidários aos desabrigadsos.
    Forte abraço.

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  3. Estou acompanhando tudo pela globo news....não há realmente o que dizer....apenas....dizer que tenha força....para conseguir dar força....tudo vai dar certo...
    abraços
    magaly

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  4. ...ajudai-vos uns aos outros... alguns tem a permissao de estar ai, ajudando, como vc! ... FORÇA! estaremos aqui em oracao! ...

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  5. E O CAUÃ DISSE QUE O RIO PARECIA UM MAR, POIS A
    ONDA ERA ENORME, ENTÃO ELE COMEÇOU A NADAR MUITO E CONSEGUIU SE SEGURAR, EU PERGUNTEI A ELE SE SABIA NADAR, PELO FATO DELE SER PEQUENO ELE ME DISSE QUE APRENDEU NAQUELA HORA. NOS ABRAÇAMOS E CHORAMOS JUNTOS. ELE COLOCOU A MÃO NA CABEÇA DIZENDO QUE NÃO AGUENTAVA MAIS. QUE JESUS COM TODA ESSA DOR POSSA NOS DÁ A ALEGRIA DE SERMOS PESSOAS MELHORES PARA O RESTO DE NOSSAS VIDAS.

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  6. ESTIVE NO PEDRÃO E QUANTO MAIS AJUDAVA MAIS APARECIA TAREFAS PARA AJUDAR OS DESABRIGADOS, ERAM CRIANÇAS COM OLHOS ARREGALADOS, JOVENS COM O OLHARES DISTANTES, MULHERES DESCONSOLADAS, HOMENS SUJOS DE BARRO ATÉ O JOELHO, PESSOAS FERIDAS,COM SORO.PARECIA UM PESADELO.VOLUNTÁRIOS E MAIS VOLUNTÁRIOS, MÉDICOS ENFERMEIROS.

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  7. Aqui em Niterói também vimos tudo pela TV,sabemos o que é ver a sua cidade, aquela que você cresceu, fez planos, sonhou... destruída, passamos por isso a pouco tempo. Peço muito a Deus pela Região Serrana. Como nosso povo é solidário! Mesmo aqueles que perderam tudo conseguem tirar forças de onde nem imaginavam ter para ajudar.
    Paz e Bem!
    Ana Paula ( Paróquia Santo Cristo dos MIliagres)

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