sábado, 19 de setembro de 2009

PATIENS QUIA AETERNUS VICERE


AHH...COMO É BOM TER SAUDADE...



PATIENS QUIA AETERNUS VICERE
(A paciência torna a vida saudável)

MINHA SAUDADE.

Depois de algum tempo, inspirado por autores de meu coração, decidi escrever sobre a saudade...

Tenho Saudade da minha infãncia..
eu queria voltar no tempo em que meu mundo era grande, e eu tão pequeno. Queria retornar aos dias em que segurava a mão estendida do papai. Queria estar mais próximo. Queria poder ouvi-lo cantar que eu posso encostar minha cabecinha no seu ombro e chorar. Como me machuca perceber que sua face envelhece com a distância e quase já não ouço sua voz rouca cantar...

“Conta logo tua mágoa toda para mim, pois do meu ombro eu juro que não vai embora,
que não vai embora, porque gosta de mim.
Amor eu  quero seu carinho, porque eu ando tão sozinho".

Tenho saudade dos sonhos inconsistentes de minha adolescência...
sem saber quem eu era, sentia poder conquistar reinos em lugares distantes e desconhecidos. Eu era um campeão para mim mesmo. Andarilho e pensador percorri muitas estradas, literalmente falando. Lembro que num só ano, andei algo em torno dos 600 km em três peregrinações distantes. Fora o que os passos da vida me exigiram andar...

Tenho saudade do Eduardo...
meu melhor amigo, que morreu afogado naquela praia de búzios. Era 29 de novembro de 2004. De lá pra cá, do mesmo jeito que na história, houve em mim um antes e um depois.

Tenho saudade da praia da “boa viagem”...
foi lá que tive minhas melhores manhãs de domingo na solidão, observando o movimento das ondas. Ali, como um menino a contemplar o alto-mar, bebi das fontes e das RAÍZES DE MINHA ALMA.



Tenho saudade de meus medos...
meus pavores de menino vinham do escuro, dos fantasmas que se escondiam atrás das portas, das estátuas que guardavam os túmulos, e das conversas cavernosas daquelas mulheres da Igreja relatando aparições de almas penadas. Tinha medo do padre da minha paróquia. Hoje temo algumas pessoas, os sistemas bélicos americanos, as potestades econômicas, os “generais invisíveis” que conspiram tramóias neuróticas, e o meu próximo tão inocente.

Tenho saudade de tanta coisa...
preciso lembrar o cheirinho de café da minha madrinha Odete em Minas, quero voltar aquela Casa, em que vovô Juca fazia xixi na cama todas as noites e que o meu padrinho Zézinho reclamava da vida com seu sotaque mineiro cerregado de austeridade e de um tom amável. Lá encontrei meu porto seguro, minha casa eterna, meu pomar, meu brilho e meu farol.

Tenho saudades do Jorge, do Paulo, do Isaú e das tardes de domingo em que íamos para o S8 nos shows de punk e grindcore lá na Trindade (em São Gonçalo, minha terra natal)...
Lá a negada “quebrava o pau”, todo mundo “pogueando”, a turma do skate fazendo piruletas no ar...as bandas tocando “um som da pesada” e ninguém brigava. Tomávamos nossos “guaranás” numa boa...éramos felizes e nos sentíamos irmãos lutando pela mesma causa...a causa da ANARQUIA. Sujeitos undergrounds pensavam um mundo diferente e possível longe do status quo da modernidade.

Tenho saudades das idas e vindas para aumentar minha coleção de discos...
Quantos sebos, quantas peregrinações pelo centro do rio, lugares undergrounds, galeria do rock em são Paulo freqüentei atrás de raridades em vinyl. Até hoje, das coisas que mais me orgulho, está minha coleção de bulachões. Já beira os 480 lps...todos catalogados e bem novinhos.

Tenho saudade do tempo em que comecei a trabalhar...
na sequência, a lista dos lugares: 13 anos (vendendo doce na barraquinha da vera no campo das guíndias nos fins de semana). 14 anos (abatedouro de galinha na esquina de minha rua). 15 anos (lixando e pintando geladeira na refrigeração do Dercy). 16 anos (loja de ração no centro do meu bairro e depois na oficina de carros do Orlando). 17 anos (trampando direto como oficce boy na clínica de olhos SG). Dali pra frente, entrei pra vida religiosa e cá estou.

Tenho saudade dos amigos que ainda estão vivos e distantes...
saudade de passar o restinho de tarde do sábado com os que me amam.
saudade de passar tempo átoa falando da vida...
saudade de abraçar e de receber carinho de quem é parte de minha alma.
voces sabem que falo de voces!



Tenho saudade de caminhar se pressa de chegar...
de distribuir folhetinho de propaganda na feira livre no domingo para comprar um suco de limão, brigar com meu irmão e mandar ele pedir penico (arrêgo) – nosso jeito de exigir rendição com o máximo de vergonha.

Tenho saudade do Osvaldo da Marilena...
meu melhor amigo de infância. Juntos formamos uma banda de rock que nunca tocou nada. Ouvíamos Sepultura e um montão de bandas de metal. Todos os domingos jogávamos bola na rua dele e eu era um dos melhores no campo. Tinha gente que dizia: - esse carinha vai ser jogador de futebol. Acorda...Dunga.

Tenho saudade de pegar jacaré com meus amigos na praia– surfar deitado, na gíria popular.

Hoje quero fazer o relógio caminhar mais devagar...
quero lembrar que quando chegava à tardinha ficava vidrado na TV vendo os desenhos animados e os filmes da sessão da tarde...

Tenho saudade dos meus primeiros anos vividos na Fé...
Ahh..como era tão bom. Por tres anos consecutivos, alimentei-me com a Eucaristia diária.
saudade das rezas, dos amigos que íamos juntos fazer "visita no hospital".
do grupo de oração "da benção", que toda segunda-feira ia nas casas de nosso bairro.
ali...alicerçamos nossos primeiros passos na fé.

Lembro-me dos balões que dava nos ônibus...
das vezes em que pulei da janela por trás pra não pagar passagem...e o trocador rindo pra mim....Das tramóias que fazíamos juntos no tempo da mulecagem...

Hoje, quero almoçar em câmara lenta...
E lembrar o cheirinho gostoso da comida que mamãe fazia quando éramos pequenos...

Tenho saudade da minha rua quando ainda era de areia...
ali bem do lado da igreja matriz, o campinho onde jogávamos bola até escurecer; eu queria voltar a jogar bola de gude com meus amigos...faria qualquer coisa para voltarmos aquelas partidas do nosso campeonato de botão na rua...cada casa era um “estádio internacional”, onde as meninas faziam torcida organizada e tudo...montávamos altos campeonatos.

Hoje quero ouvir as histórias que mamãe contava...
E lembrar que quando vovô ia lá em casa, ficávamos felizes porque ele sempre trazia um trocado, e aí podíamos comprar mais brinquedos...

Hoje quero lembrar daquele entardecer num dia frio e cinzento em que não choveu...
Hoje quero desacelerar meu coração para meditar...
Ver o imperceptível, tocar o intangível, ouvir a melodia de minha alma e perceber bem o que só se pode ver com o coração.
Hoje quero estar em paz.

Confesso: não me acostumei com os adultos...
Depois de viver ao lado de gente grande, ando meio decepcionado. Quero de volta meus amigos de infância. Sei que é impossível e que não adianta tentar viver num passado idealizado. Resta-me o consolo de que o Reino de Deus pertence aos meninos.

Quando chegar lá, acho que verei uma bicicleta velha, pintada de verde, me esperando, um balão colorido, alguns brinquedos de minha infância...
Acho que encontrarei no céu um velho tocador de discos só pra mim, e como por “assimetria afetiva” quero passar anos conversando com meus amigos e amados sobre a vida, a poesia do mar, a beleza das galáxias e sobre a simplicidade das crianças.


Hoje tenho saudade de tudo.
saudade de mim.
saudade, enfim.
a paz.

Frei Eduardo F. Melo
19 de setembro – 2009.
Salamaleiko.

2 comentários:

  1. que perfeitah essa mensagem SUA...(novidades ne?! rsrs)


    adoro ouvir voce,
    e ler o que escreve tambem ")

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  2. Também tenho saudade dos aniversarios que demoravam tanto pra chegar!
    Do tempo em que não tinha preocupação..vivia cada dia sem pensar no amanhã...

    Mas a vida é assim feita de lembranças.. se nada mudasse na nossa vida não teriamos tantas coisas pra lembrar, e lembrar que como fomos felizes...

    Vida que segue...

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