terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Morte e vida na Fronteira do Desespero ( PARTE 1).


Retornando das férias e depois de  um longo tempo sem postagens mais elaboradas sobre temas da Fé e da Filosofia...
decidi "re-postar" um texto que passou por algumas mudanças desde o tempo em que ele foi redigido. Ele trata da famosa e antiga questão da existência do Sofrimento no mundo, visto pela ótica da fé, e neste caso, sob a ótica da Fé cristã.

Em primeiro lugar, reconheço que minhas idéias não são originais, muito menos únicas no meio de uma vasta literatura religiosa e filósofica sobre o tema.
Muitos autóres já se debruçaram sobre a questão, e meu trabalho aqui de fato, é apenas uma síntese de tudo aquilo que já pesquisei sobre o tema.
Em especial cito aqui a famosa obra do escritor judeu  Harold Kushner, intitulada "Porque sofre o justo?". Em tese ela é o fundamento deste texto, somado, com certeza, aos últimos artigos lidos na revista Filosofia, Psique e vida, caras ao meu universo literário atual.

Para fins pedagógicos, usarei o famoso método da auto-pergunta.
Ele ajuda muito porque consegue dar conta das questões colocadas pelo senso comum a respeito dos temas citados.

Boa leitura à todos!

Para ínicio de conversa...
acredito que ninguém deve buscar explicações sobrenaturais para substituir explicações naturais que já existem, para fenômenos como terremotos, tsunamis, furacões, ou a evolução biológica.

Creio que alguns fenômenos fazem parte das condições naturais do nosso planeta...
o qual possui sistemas todos interligados, e cujo equilíbrio é bastante delicado. Terremotos são naturais, num planeta constituído por uma fina camada de rocha solidificada, e ainda por cima dividida em placas que se movem e se atritam entre si.

"Uma tsunami, por exemplo, nada mais é do que uma onda gigante, provocada por um terremoto sub-aquático. Não depende de Deus nem iniciar o processo, nem pará-lo. É apenas algo que naturalmente ocorre ao nosso planeta."

1- Você concorda com a Idéia difundida no Cristianismo popular, de que Deus pode tirar um bem a partir de uma tragédia, para levar as pessoas à aceitação dos seus propósitos?
Acredito que Deus não tem propósito algum com a tragédia. O que pode acontecer, é que diante de uma tragédia como uma Tsunami, pessoas podem ter a oportunidade de se mobilizar e expressar o amor de Deus por quem sofre. E isso não depende de religião.

"Percebo que é mais comum ver pessoas fazendo mal as outras "em nome de Deus", do que o bem. As vezes fazemos o bem, mas nem sempre o feazemos por uma finalidade religiosa."

2- O que você acha das Igrejas que usam dos acontecimentos catastróficos para pregar o Evangelho e o nome de Deus?
Já defendi minhas opiniões sobre esse tema na monografia da graduação em Teologia.

"Sinto que algumas igrejas evangélicas em geral, usam a tragédia como oportunidade para vender a imagem da Igreja a quem está sofrendo. Ajudam, para depois exigir que a pessoa faça parte desta ou daquela comunidade, distribuem folhetos para deixar claro que foi a tal igreja que ajudou."

Eu sou da idéia de que o vento sopra onde quer, e Deus usa quem quiser, quem estiver disponível...
Só pra se ter uma idéia: quando ocorreram aquelas enchentes terríveis em Santa Catarina, a Ana Paula Valadão (vocalista do conjunto “Diante do Trono”) soltou uma bobagem sem tamanho em seu blog, dizendo que era a tragédia era castigo de Deus pela depravação da Oktoberfest. E o pior é que houve muitas cabeças, sem cérebro, que concordaram.

3- Como explicar então, o surgimento em larga escala das últimas catástrofes naturais?
Catástrofes naturais são apenas isso: catástrofes naturais. Fazem parte do funcionamento do planeta. Sempre aconteceram e sempre vão acontecer.
Acontecem no Ocidente, no Oriente, independente da religião, independente da crença. Atribuir a Deus qualquer participação ou controle sobre isso, é um erro, no meu ponto de vista.

"Só pra citar um exemplo: se somos nós que jogamos lixo nos rios e enchemos nossas cidades com concreto e asfalto, Deus tem responsabilidade pela enchente, ou obrigação de fazer a água desaparecer do nada?"

4- Será que a religião prega uma verdade que esbarra no campo da responsabilidade humana e da realidade mais crua dos povos que sofrem?
Por exemplo, a seca no nordeste. 
Será que o povo do nordeste não pede chuva pra Deus? Claro que pede. Só que Deus não pode restaurar o clima que nós detonamos. Seria fácil demais, nós fazemos todo tipo de burrada, detonamos com o planeta inteiro, e aí pedimos a Deus que resolva milagrosamente, que restaure o planeta, ou culpamos Deus por não ter evitado a tragédia.
De quem é o erro?

4- Você acredita que a oração tenha poder de transformar o mundo?
Costumo dizer para as pessoas, que orar para que certas coisas acontecam se torna, as vezes, um ato de Irresponsabilidade.

"Por exemplo: pra que orar pela interrupção do aquecimento global se isso não vai resolver nada? Pra que orar pelo término da fome na África, se isso não mudará realmente a situação dos povos que lá sofrem?"

O que vai resolver é agir, tomar atitudes, e isso não é da responsabilidade de Deus, mas nossa.
Colocar mãos a obra e se comprometer de verdade em consumir menos, poluir menos, ter uma vida mais simples, respeitar o planeta que também é com um organismo vivo.

"Eu acredito que orar vai ajudar a mudar mais a minha mente do que empurrar Deus a fazer alguma coisa. Porque é a nossa mentalidade que precisa ser mudada, não a de Deus."

Acredito firmemente que Deus está em cada pessoa.
Nós somos o corpo de Deus aqui na Terra, somos os braços dEle que estendem a mão a quem está caído, os pés dEle que caminham até quem está precisando de ajuda, o colo que vai consolar alguém que precisa chorar.

Então somos nós que devemos realizar as ações que muitas vezes achamos que devem vir de Deus, e que as vezes esperamos que caiam do céu.
Alimentar os famintos, dar de beber a quem tem sede, teto a quem não tem onde morar, roupa para quem não tem o que vestir, consolo a quem sofre, compartilhar a vida, a morte: essa é a nossa missão, afirmou Madre Teresa de Calcutá.

5- Como voce interpreta o significado da Oração aplicado por esses novos segmentos evangélicos diante das catástrofes humanas?
Colocar um exército para orar pelos famintos, não vai adiantar nada, vai apenas aliviar a consciência de quem acha que está fazendo alguma coisa, sentado no banco da igreja repetindo orações.

"Seria melhor fazer cada um dos membros desse exército de crentes, além de orar, doar um prato de comida, uma cesta básica. Acredito que o evangelho exige também ação, e que a oração não é para convencer Deus a se mexer, e sim, para mudar a nós mesmos, e nos empurrar a fazer o que é necessário."

Acredito que orar pelo fim da corrupção no Brasil não vai adiantar, se não fazemos nada contra isso na prática. 
E se até os crentes que se envolvem com política, são também corruptos, porque acreditar que o que depende dos humanos tenha de acontecer por intervenção de Deus?
O que falta é exemplo de integridade. Ungir cidades com óleo e fazer atos proféticos para "entregar cidades a Jesus", não vai adiantar nada, porque seguir Jesus é uma escolha pessoal, nunca uma decisão que move as massas.

Acho que precisamos sinceramente "REPENSAR" nossa Fé.

Continua nos próximos dias...

Frei Eduardo F. Melo
Rio de Janeiro- RJ
11 de Janeiro - 2011.

2 comentários:

  1. Frei querido,
    Concordo plenamente com você, toda catástrofe que tem acontecido, Deus não tem nada com isso. Nós humanos é que destruimos nossa planeta. Deus está presente em casa pessoa que se comove com as situações devastadoras e tentam ajudar os necessitados, de fome, de sede, de justiça, de amor.
    Agora é a hora de VER,JULGAR com os olhos de Jesus, e AGIR, AGIR, AGIR....

    Forte abraço. Saudades sem fim!!!

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  2. olá FRei saudades dessas suas sábias palavras, que como sempre nos remetem a reflexão profunda do nosso comportamento.
    PArabéns seu blog é luz e inspiração.
    Abç!
    Namastê.

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